Debate sobre segundo tripulante HEMS esquenta na França

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A Direção Geral de Aviação Civil da França (DGAC) aprovou a ideia de treinar oficiais médicos para servirem como “tripulantes técnicos” dos helicópteros de emergência médica (HEMS), atendendo as exigências do regulamento de operações aéreas (IR-OPS) da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA).

Novas regras europeias pedem que pilotos HEMS sejam auxiliados pelos chamados tripulantes técnicos no assento à esquerda.
Novas regras europeias pedem que pilotos HEMS sejam auxiliados pelos chamados tripulantes técnicos.

A partir do dia 8 de outubro, alguns voos HEMS, que têm sido conduzidos até então por apenas um piloto, deverão possuir um tripulante técnico. As reações das empresas operadoras de helicópteros variam desde preocupação a um forte apoio, mas o sindicato dos pilotos tem mostrado oposição à mudança.

Com exceção das missões de busca e salvamento, as novas regras exigem que um segundo par de olhos esteja a frente, quando o helicóptero estiver voando para um local sem preparo, sob condições de Regras de Voo Visual (VFR), para buscar um paciente.

Baseada nas presunções de que os hospitais considerariam o custo adicional de um segundo piloto muito alto e que este peso extra cairia sobre os gastos habituais das aeronaves, os lobistas da Associação Francesa de Serviços de Helicópteros de Emergência Médica (AFHSH) emitiram uma moção no ano passado pedindo que o segundo tripulante fosse um médico ou enfermeiro capacitado.

Na assembleia anual da associação deste ano, o representante sênior da DGAC deu a benção à ideia da AFHSH, dando a entender que a organização deve aprovar o programa de treinamento. O tripulante técnico deverá ajudar o piloto a evitar tráfegos aéreos e obstáculos assim como a selecionar o local de aterrizagem.

A reação das partes interessadas

A INAER França (parte da Avincis), que foi recentemente premiada com longos contratos por diversos grupos de hospitais franceses, apoia o plano. “Já estamos planejando um curso de três dias com aulas adicionais online,” contou Frédéric Goig, diretor executivo. O curso é direcionado àqueles em outros países onde a INAER presta serviços HEMS. Nestes países, no entanto, o paramédico que atuar como tripulante técnico será contratado pela operadora. Na França, os profissionais médicos serão contratados pelos hospitais.

O programa de treinamento da INAER inclui outras tarefas de aviação listadas como “meios aceitáveis de conformidade” ao documento da EASA, incluindo assistência com a navegação, seleção de frequências de rádio, leitura de listas de verificação, monitoramento de parâmetros e preparação do helicóptero. As tarefas vão até “assistência na aplicação de medidas de segurança durante operações em terra com rotores girando, incluindo controle de multidões, embarque de passageiros e reabastecimento.”

O documento da EASA deixa claro que a vigilância e a assistência na escolha de um local para pousar são tarefas primordiais que o tripulante técnico deve ser capaz de desempenhar, salvo poucas exceções.

As controvérsias  surgem com o restante das atribuições, como a assistência à navegação e segurança durante reabastecimento, tarefas que o sindicato dos pilotos (SNPNAC) quer que os tripulantes técnicos desempenhem. Nicolas Letellier, presidente da AFHSH, discorda e sugere que a assistência à vigilância e à seleção de um local para aterrizagem são suficientes.

Diante de pedidos de esclarecimento, a EASA condescendeu com a DGAC. “A operadora tem o privilégio de poder introduzir um meio alternativo de conformidade à norma; tal meio deve demonstrar um nível de segurança similar e precisa ser aprovado pelas autoridades competentes,” contou o porta-voz da EASA.

O representante do SNPNAC, Jean Bec, é contra a ideia de colocar uma pessoa da aviação no lugar do copiloto. “Não dá para ser capacitado em ambos, medicina e aviação,” disse Bec. Ele questiona se, durante o julgamento de um acidente, o tribunal apoiaria este acordo. “Alguém, por acaso, consegue atuar razoavelmente como um tripulante responsável pela segurança do voo, na partida, e cuidar do paciente, na chegada?” perguntou retoricamente. Ele questionou, inclusive, a legitimidade da AFHSH.

No entanto, nenhuma organização sugeriu outros meios de conformidade à norma que fossem aceitos pelos administradores dos hospitais. Como um membro do conselho francês de tripulantes, o SNPNAC está autorizado a apresentar as contas ao Ministério dos Transportes. Bec pretende usar este privilégio para conseguir uma aplicação mais rigorosa dos regulamentos para operações aéreas. No último caso, os pilotos HEMS poderiam entrar em greve, ele preveniu.

Uma outra organização de pilotos tem uma abordagem mais conciliadora. Mathieu Vandenavenne, presidente da Associação Francesa de Pilotos HEMS (ANSMUH), dá menos importância à formação anterior do tripulante técnico, contando que ele ou ela esteja devidamente treinado(a). Ele também questiona quem assumirá a responsabilidade, já que o tripulante técnico, ajudante do piloto, será funcionário do hospital e não da operadora do helicóptero.

A visão da ANSMUH vai ao encontro do que as principais operadoras HEMS na França questionam. De acordo com uma fonte comum às operadoras SAF Hélicoptères e Mont-Blanc Hélicoptères, as duas não se opõem à ideia da AFHSH, mas, ao mesmo tempo, estão desconfortáveis sobre quem assumirá a responsabilidade e querem ver as suas preocupações resolvidas e esclarecidas. Por exemplo, a operadora não poderá supervisionar os períodos de descanso dos tripulantes técnicos. As operadoras também não querem entrar em conflito com os sindicatos de pilotos, disse esta fonte.

A NHV, uma operadora HEMS baseada na Bélgica, que faz voos para vários hospitais franceses, tem operado com um dedicado tripulante técnico por anos e não parece estar preocupada com os custos, observou Letellier.

Fonte: AINonline/ Reportagem: Thierry Dubois

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