Uma colisão chamada CFIT

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HILTON RAYOL

Ao longo dos anos a indústria aeronáutica tem procurado um melhor aperfeiçoamento para o desenvolvimento tecnológico da indústria do transporte aéreo. Em 1970, técnicos da Boeing criaram esse termo chamado CFIT (Controlled Flight Into Terrain – Colisão com o Solo em Voo Controlado), para descrever um acidente aéreo quando uma aeronave colide contra o solo, com todos os seus equipamentos de voo funcionando normalmente.

A nossa atividade está sempre focada em programa de prevenção de acidentes, por isso, tem investido em equipamentos de ponta, com intuito sempre de melhorar e aumentar a segurança, evitando assim que situações indesejáveis aconteçam durante o voo, alertando o piloto com  informações confiáveis desses equipamentos existentes nas aeronaves, fazendo com que o voo se torne cada vez mais seguro.

Estudos realizados, relatam que este evento apresenta algumas características que estão relacionadas a Fatores Humanos, Condições meteorológicas adversas, falhas, enganos e violações de conduta durante o transcorrer do voo, são elas:

– mau tempo;
– gelo;
– turbulência;
– problemas com o equipamento;
– fadiga;
– desatenção;
– erro de julgamento;
– falha de treinamento; e
– não utilização de uma fraseologia padrão.

Na elaboração deste artigo, fiz algumas pesquisas a respeito deste evento, e observei pontos relevantes em caso de um acidente, e quais os fatores contribuintes, são eles:

– Complacência no uso do automatismo;
– Procedimentos de não-precisão com descidas em “steps”;
– Falta de alerta situacional;
– Falhas de CRM;
– Efeito “Black Hole”;
– Inexistência ou falha no uso de auxílios à navegação e auxílios visuais (VOR, DME, NDB, ILS, PAPI, VASIS, AVASIS).

Um dos equipamentos utilizados para esse tipo de operação é o GPWS (GROUND PROXIMITY WARNING SYSTEM), um sistema que foi criado em 1967, por Don Batman, engenheiro-chefe da Flight Safety Avionics que tem como objetivo alertar os pilotos sobre a proximidade da aeronave no solo, morros e montanhas. O equipamento trabalha da seguinte forma:

Durante o voo, o sistema monitora a distância da aeronave ao solo, voando em regiões montanhosas, com informações através do altímetro. No decorrer da sua operação vai verificando as indicações referentes a sua altitude. Importante lembrar que esses alertas que os pilotos recebem deste equipamento, podem ser visual ou auditivo, o que demonstra uma característica importante no sentido de assegurar que a trajetória da aeronave em relação aos voos nessas regiões, estão sendo cuidados para  garantir que tudo seja feito de maneira eficiente e segura.

Os fatores contribuintes que estão presentes neste evento, está relacionado a fadiga, perda de consciência situacional, ou desorientação.

O fator CFIT é considerado uma forma de desorientação espacial, onde o piloto(s) não percebem corretamente a sua posição e orientação com relação ao plano da terra, o que acaba levando a aeronave a uma situação praticamente incontrolável.

Os incidentes ou acidentes dessa natureza atingem proporções significativas pelo fato de se tratar de uma colisão a baixa altura, por não obedecer a altitude de segurança da região, que alerta qual a altitude mínima a ser voada nos setores de aproximação do aeródromo, essa altitude está estabelecida através dos mapas e cartas de aproximação.

Voos que são realizados em condições de visibilidade reduzida, próximos a base de camadas de nuvens baixas ou procedimentos de aproximação não homologados, caracterizam a exposição da aeronave e seus ocupantes ao perigo, permitindo o risco e ultrapassando seus limites de segurança. É necessário que o piloto esteja atento as informações do destino, evitando fazer manobras a baixa altura ou efetuar procedimentos em aeródromos que não estão homologados, levando a uma operação  inaceitável.

O CFIT ocorre durante a descida até o pouso, podendo está associado a um mau funcionamento do equipamento de navegação, o que irá induzir o piloto a um erro durante a aproximação. Entretanto, caso ocorra uma falha ou erro nas informações, é importante que o piloto tome alguns cuidados necessários para não violar o sistema, isto é, obedecendo o regulamento relacionado as regras de voo e qual a condição que está voando. Importante não agir de maneira intencional, desnecessária, premeditada, procurando sempre fazer um bom gerenciamento do voo.

Na aviação é preciso ter em mente que as defesas bloqueiam as ameaças durante todas as operações. Uma dessas defesas está relacionada a uma padronização estabelecida pelas empresas para as operações de suas aeronaves, com o intuito de cumprir a rotina durante os voos e nos treinamentos de simulador. Outra defesa é o aumento da consciência situacional, isto é, uma melhor compreensão e interação dos eventos em tempo real, utilizando-se de recursos disponíveis, ou seja, coordenando as ações a serem tomadas durante o voo.

Na conclusão desta matéria, gostaria de deixar ao que está disposto no Código Brasileiro de Aeronáutica – CBA, no seu artigo 87. “a prevenção de acidentes aeronáuticos é da responsabilidade de todas as pessoas, naturais ou jurídicas, envolvidas com a fabricação, manutenção, operação e circulação de aeronaves, bem assim como as atividades de apoio da infraestrutura aeronáutica no território brasileiro”.

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Autor: Piloto de Linha Aérea; Bacharel em Aviação Civil pela Unicesp Brasília; MBA em Gestão Aeroportuária; Pós-graduação em Segurança de Voo e Aeronavegabilidade Continuada pelo ITA; Curso de Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional SGSO pela ANAC; Direito Aeronáutico pela Academia Brasileira de Direito Aeronáutico – ABDA; Perito Judicial Aeronáutico pelo Instituto J. B. Oliveira; Curso de PBN pela ANAC.


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