Cesto – Um equipamento para situações difíceis

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EDUARDO DE MORAES GOMES

O cesto é um equipamento empregado nos casos em que pessoas estejam isoladas e em situação de perigo (incêndios, pessoas perdidas ou feridas na mata, enchentes, retirada de pessoas de embarcações e ilhas, desde que próximo da orla, etc). Essas situações podem ser variadas, salvaguardando as restrições de cada uma destas modalidades.

O cesto se tornou ao longo da história do GRPAe um dos equipamentos de total relevância, visto a importância e a repercussão adquirida favoravelmente no salvamento realizado na Favela de Heliópolis ocorrido em 17 de junho de 1996, o qual foi realizado com extremo sucesso.  Nesta fase de crescimento e de absorção de conhecimento o cesto utilizado não possuía os mesmos padrões e tão pouco as certificações que hoje nos alicerçamos para operações de salvamento, seja terrestre ou em altura.

Um apontamento histórico e de extrema relevância foi como surgiu o cesto no GRPAe da PMESP e no Brasil. Em 1986, o então 1º Ten PM Otacílio Soraes de Lima, assistindo a um filme americano da época, observou a cena de um resgate de refugiados de gerra com um helicóptero Bell 206, que, utilizando um cesto,  retirava 3 ou 4 pessoas do local onde se encontravam enclausuradas. Essa cena não durava mais do que trinta segundos e como nesta época não havia a tecnologia atual disponível, muito menos a facilidade das informações, o referido comandante reviu o filme várias vezes e fez um protótipo sete vezes menor do que era apresentado no filme. Com o protótipo na mão, levou-o à Casa das Cordas em São Paulo, a fim de conseguir alguém que pudesse reproduzí-lo em escala real. Foi indicado para tal trabalho o Sr Aparecido, uma pessoa que prestava serviço para essa loja e para a Petrobrás, um artezão. Assim, foi contruído o primeiro cesto no Brasil. Com o falecimento do Sr Aparecido os cestos subsequentes foram confeccionados com fitas tubulares, até que chegássemos nos atuais cestos de salvamento.

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Operações realizadas com o uso do cesto em enchentes

Naquela época este equipamento consistia basicamente de dois aros, sendo um inferior e outro superior e todo ele revestido por fitas tubulares, inclusive a parte fixa ancorada ao cesto que se liga ao gancho da aeronave.  Percebeu-se então que este tipo de material teria o seu tempo útil muito reduzido, devido ao tipo de exposição que ele sofreria no decorrer das ocorrências.

RECOMENDAÇÕES

Além da preocupação com o material utilizado para a confecção do cesto, sua forma de utilização é vital para o sucesso da missão, assim, alguns procedimentos devem ser adotados. Considerando que a aeronave utilizada seja um As 350 B2 (Esquilo), onde o gancho da aeronave suporta até 750 kgf, os passos as seguir devem ser observados e considerados:

fixacaoa)   Fixação do estropo ao gancho da aeronave com seu back-up.  Este Back-up está sendo testado em decorrência de missão anteriormente executada, onde houve o acionamento involuntariamente do gancho. A conexão ao gancho é realizada através de uma sapatilha envolvida por alça do trançado da corda;

b)   Comprimento do cabo (estropo) é de apenas de 10m.  A extensão do cabo é um fator limitador em casos de qualquer estrutura que atinja o seu comprimento;

janec)  Fixação do tripulante ao cesto.  Por experiências anteriores o tripulante deve estar fixado ao cesto, por um talabarte de ancoragem (Jane), visto que alguns foram puxados para fora devido ao desespero das vítimas;

d)   Número de pessoas a serem embarcadas no equipamento.  Além do tripulante, embarcamos mais duas vitimas adultas, fazendo a média de 100 kgf para cada pessoa dentro do cesto, vale lembrar a capacidade do gancho;

e)    Quais pessoas podem e/ou devem ser embarcadas no equipamento.  Toda e qualquer pessoa que esteja consciente ou inconsciente, desde que não tenha sido acometida de qualquer trauma (fratura) principalmente a de coluna, nestes casos, passa a priorizar a retirada com a técnica de “Mc Guire” com a maca Sked;

distorcedorf)   Vale lembrar que o cesto gira, porém não há perigo de torção devido a instalação de um distorcedor como mostra a figura ao lado.

DESCRIÇÃO DO CESTO DE SALVAMENTO

cesto1Equipamento destinado a salvamento em altura, locais confinados e de dificil acesso, que consiste em dois aros tubulares de duro alumínio com 1’ (uma polegada) de diâmetro externo, e 1/8” (um oitavo) de polegada  de espessura do seu material e, como regra geral, segue a seguinte descrição técnica:

1. Aro Superior

Aro Superior de 70cm (setenta) de diâmetro medido pela sua parte externa revestido com cordim branco de poliamida de 06mm (seis milímetros) , duas cordas do tipo naval de ½” (meia) polegada com o comprimento de 90cm (noventa) centímetros que formarão 04 (quatro) tirantes, a distância de fixação entre elas devem ser diametralmente opostos, sendo que um deles deve estar no centro da abertura que será a entrada/saída do equipamento.  O nó de ligação da corda naval com o aro superior deve ser a “volta do fiel” utilizando como acabamento deste nó uma falcaça de 10cm (dez) centimetros de comprimento com o cordim de poliamida branco de 3mm (três) milimetros, estes tirantes funcionarão como suporte de sustentação do cesto.  Na parte superior no permeio da corda naval colocar uma manilha de aço, e 3cm (três) centimetros abaixo inciar uma falcaça de 10cm (dez) centimetros de comprimento com o cordim de 6mm (seis) milímitros para o acabamento.

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Detalhes do aro superior do cesto

2. Aro Inferior

Aro inferior de 1,00 (um) metro de diâmetro medido pela parte externa, sendo da mesma espessura do aro superior, revestido com cordim branco de poliamida de 06mm (seis) milimetros, se interligando ao aro superior por meio por meio de tirantes.  No aro inferior terá ainda 4 (quatro) tirantes que estarão ligado ao centro por uma argola de aço de 8cm (oitro) centímetros de diâmetro, e nas suas extremidades ligado ao aro de uma maneira tensionada com o nó “volta do fiel” utilizando como acabamento deste nó uma falcaça de 10cm (dez) centimetros de comprimento com o cordim de nylon  poliamida branco de 3mm (três) milimetros, que será a base de sustentação para a malha que virá;  a distância de fixação entre elas devem ser diametralmente opostos.  Depois de estar todas as cordas instaladas e acabadas colocar proteção de mangueira de PVC “Transpower” de cor azul de 5mm (cinco) milímitro de espessura.

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Detalhes do aro inferior e da malha do aro inferior

3. Malha do Aro Inferior

É confeccionados em rede de malha do tipo “pescador” com o cordim de nylon trançado de 6 mm (seis) milímitros de espessura, nó tipo “escota dupla”, tendo um espaçamento entre as malhas de 5cm (cinco) centímetros, que devem ser fixado em todas a extensão do aro e colocada sobre a argola central e os quatros tirantes.

4. Corpo de Sustenção do Cesto

cesto2Sustentação lateral se dará por 09 (nove) tirantes de corda de nylon torcida de ½” (meia) polegada, com 2,00 m (dois) metros de comprimento e fixados de forma que fique uma abertura de 40cm (quarenta) centímetros de distância, abertura esta que será a porta de entrada/saída.  Tomando como referência as cordas base da abertura da porta as demais devem ser disposta da seguinte forma: 02 (duas) cordas a 15cm (quinze) centímetros de distância das cordas bases pela sua parte externa e as 05 (cinco) cordas restantes devem ser dispostas de maneira uniforme entre elas tanto no aro superior quanto no aro inferior,  utilizando o nó “volta do fiel”, e com acabamento de 10cm (dez) centímetros de falcaça, tanto no aro superior como no aro inferior, utilizando cordim de 3mm (três) milímitros.

5.  Malha do Cesto

É confeccionados em rede de malha do tipo “pescador” com o cordim de nylon trançado de 5mm (cinco) milímitros de espessura, nó tipo “escota dupla”, cobrindo 5/6 da circuferência do cesto, deixando apenas 1/6 que será a abertura de entrada/saída.  A malha deve ter um espaçamento entre elas de 8cm (oito) centímetros.

6. Estropo

É uma  corda naval de nylon poliamida trançada de 1” (uma) polegada com 10m (metros) de comprimento, que será a ligação do gancho da aeronavave com o cesto propriamente dito.  Em uma de suas extremidades deverá ter uma sapatilha de aço presa por uma alça feita do trançado na corda, e na outra extremidade deverá conter além da sapatilha fixada da mesma forma que a anterior  terá um distorcedor de aço.

7. Corda para Porta

Esta corda será o delimitador da porta, e ela deve ser em quantidade de 5 (cinco) partes, cada parte deverá ter 60 (sessenta) centímetros de comprimento, em corda de poliamida de 11(onze) milímitros de coloração azul ou preta.   A fixação desta corda deverá ser nas cordas laterais do corpo do cesto que delimitam a porta.  Na parte que ira ser fixa utilizar um nó “volta do fiel” e com acabamento em cordim branco de 03 (três) milímitros, em comprimento de 10 (dez) centímetros.  Na parte móvel deve ser feitas uma alça em acabamento com cordim branco de 03 (três) milímitros, em comprimento de 10 (dez) centímetros, que será encaixado no seio da alça um mosquetão de aço de engate rápido.  A distribuição deve ser de forma uniforme compreendendo a altura total do cesto.

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Tipos de nós utilizados na confecção do cesto: pescador simples, falcaça e volta do fiel, respectivamente

8. Bolsa de Acondicionamento

A bolsa de acondicionamento acompanhando a ergonometria do equipamento devendo ser confeccionada em lona plástica de cor laranja e com reforços em suas paredes, com zíper para fechamento, e ainda uma possuir duas alças para facilitação do transporte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cesto é, certamente, um equipamento muito útil e com o qual podemos dispor nesta modalidade de salvamento. O objetivo aqui é o  aprimoramento da técnica e do equipamento, assim, pilotos e tripulantes do GRPAe/SP efetuaram estudos e testes buscando o melhor tipo de material a ser utilizado na sua confecção, almejando adquirir maior longevidade e performance, chegando-se a um consenso e, assim, esse equipamento passou a ser adotado pelo GRPAe e por suas Bases destacadas.


Fonte: Esse texto foi escrito por Eduardo de Moraes Gomes (tripulante operacional), entretanto, essa técnica e equipamento foram desenvolvidos por tripulantes operacionais e pilotos do Grupamento de Radiopatrulha Aérea da Polícia Militar de São Paulo, após muitos debates e testes e, atualmente, é equipamento adotado por essa Unidade de Aviação Policial.


20 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns meu Amigo! E se me permite um adendo, vale lembrar que tanto para Cesto quanto para qualquer outra atividade de salvamento encontraremos situações onde a necessidade de “adequarmos” outros conhecimentos e equipamentos serão determinantes. No caso específico do Cesto teremos algumas adequações que certamente poderão influenciar no resultado da operação. Um exemplo básico seria em um salvamento em enchetes ou encostas, como ja ocorrido, onde a utilização de colete salva vidas (espuma ou inflavel), capacete para trabalhos aquáticos e óculos de proteção que estariam completando o EPI do tripulante e minimizando os riscos em caso de falha de equipamento ou mesmo uma pane na aeronave.

    Bom, espero que continue escrevendo artigos deste gênero.

    Um grande abraço

  2. Obrigado meu amigo
    Temos que lembrar no nosso caso que existe os Procedimentos Operacionais Padrão (POP), porém este não pode e nem deve ser o motivo pelo qual devemos engessar nosso conhecimento adquirido ao longo do tempo, no entanto mudança e adaptações são permitidas até no POP na fase das ações corretivas.
    Um abraço.

    • Ola Eduardo sou tripulante do batalhão de operações aéreas de santa catarina. Recentemente adquirimos um cesto de resgate aéreo. Por isso através deste gostaria de receber algumas informações quanto ao uso , procedimentos e suas limitações. informando-o ainda que sua fonte será mencionada no manual de procedimentos do uso do cesto. Desde já muito obrigado. O batalhão de operações aéreas. Voar, pairar, salvar!

  3. Parabéns!!!
    Materia de extrema importância para nós que utilizamos este equipamento e que com a iniciativa do site e o conhecimento que possui esta sendo compartilhado agora com o mundo e até mesmo com o público interno que encontra-se em fase de aprendizagem nas bases do GRPAe.
    Tenho certeza que referida materia sera de grande valia para muitos da aviação policial. Mesmo que no anonimato mas que no fundo tera a certeza que estamos(GRPAe) operando numa excelência com relação aos materiais e ao fator humano no quesito conhecimento.

  4. Achei a matéria muito boa, e lendo outras materias do gênero neste site vi que nste espaço que permitem fazer comentarios algem fez recomendacões de como usar qualquer tipo de aparelho de resgate no gancho tendo ele provado nas cartas de recomendações do fabricante, eu fui atras da tal carta e lá fala que não é permitido esse tipo de acoplamento direto com cordas no gancho a não ser atraves de olhau e da medida que manda o fabricante, e no final dos comentarios um Piloto faz declarações que realmente ja ocorreu de o gancho não alijar devido este fato, seria bom rever todos estes aparelhos, pois grupamentos que estão iniciando buscam conhecimentos nos mais antigos e não podemos passar informações que possam provocar incidentes de voo, antes de mexer em qualquer parte estrutural do helicoptero e bom consultar o setor de manunteção para ver se realmente se faz correto a colocação do aparelho, muitos copiam este grupamento aéreo por serem referencia, por isso estou fazendo tal alerta.

    • Caro Lacerda, essa recomendação é de um passado próximo e o manual do piloto do AS350B2 VEMD já vem com essa recomendação, que, por sinal, ocorreu devido a esses travamentos. Como esses equipamentos são utilizados há mais de duas décadas eles devem, realmente, serem revistos, pois o tipo de conexão do puça e do cesto devem ser corrigidos. Esta correção é mais simples, basta conectá-los a um mosquetão de aço ou um “olhau” e este conectado ao gancho. Quanto ao sistema do mac-guire pelo gancho também deve ocorrer tal correção. Este é um espaço para melhoria contínua de nossos procedimentos. Essa participação é fundamental.

      Veja, Lacerda, se não tivéssemos esse espaço, não teríamos esses debates, por isso, a abertura para os comentários, assim, o artigo se completa com ele, entretanto, precisamos escrever mais sobre esse temas. Existem muitas unidades no Brasil com pessoas altamente capacitadas e apelo a todos que escrevam e teremos o maior prazer em publicar no site. Ninguém é o dono da verdade. Gostaria muito de saber como, tecnicamente, outras unidades realizam suas operações e como e quais são os equipamentos que utilizam.

      Afirmo mais uma vez, esse espaço é nosso e devemos utilizá-lo para tornar nossas operações mais seguras.

      Atenciosamente

      Eduardo Beni
      GRPAe/SP

  5. Ok meu amigo, vou preparar algo e publicar neste site, como você mesmo disse ninguem é o dono da razão e realmente temos que trocar informações, tambem seria viavel se tripulantes fossem para outros estados e tipo ficar uns quinze dias + ou- e ver a realidade de cada unidade e sim fazer relatórios, publicações e ate mesmo colocar em atividade o que viu em seus proprios grupamentos, já estive em uns 04 grupamentos aéreos e tem certas coisas que realmente são diferentes, algumas misticas e até mesmo preconceitos devem ser quebrados para que possamos ver e abrir novos horizontes e então digo que não seria impossivel que todos falassem a mesma lingua seriamos todos padronizados.

  6. Olá meu amigo, gostaria de saber se este equipamento foi comprado ou construido por vcs de SP, e se foi comprado poderia me passar o nome do fabricante.

  7. primeiramente parabéns pela ótima matéria! estou procurando um distorcedor para comprar, como este da foto, mas não estou conseguindo encontrar em Rio de Janeiro-capital, por obséquio se puder informe-me onde comprá-lo. obrigado!

  8. Nossa aviação de Segurança Pública Clama por Integrantes Motivados e com fé superior, por inovações e mudanças, tudo passado pelo fino filtro s preceitos dos da Segurança de Vôo.
    Sabemos… Fazemos parte de um país, de tamanho continental, tendo clima, relevo, culturas e procedimentos diferentes por parte da aviação, sabemos que isso irá influenciar. Uns fazem mais, combater incêndio florestal, outros, salvamento aquático, outros Transporte aeromédico e Radiapatrulhamento, quando não é tudo isso e outras coisa, umas irão sobressair mais que outras.
    O nosso atuar, é tipo a Canção do Expedicionário, cada um é de um lugar e cada lugar soma e forma o Grupo.
    É muito rico termos, a possibilidade de trocar conhecimento destes assuntos neste site, sem o “Pano Preto”, hoje foi sobre o cesto, mas têm outros, porque o que é importante para eu, será a base para aquela Unidade, aquele Tripulante, piloto, que virá depois de mim. Com certeza aqui também se salva vidas, uma vez que estamos levantando possibilidades, tirando dúvidas e embassando condutas.
    E parabéns a todos, a quem escreve, que busca e tá a cara a tapa, ao que interroga e quer respostas mais concretas, ao que tem a concreta resposta hoje e aquele que esta lendo, interpretou, aprendeu e já mudou seus procedimentos ou aprendeu mais.
    Valeu Gente;
    1° Sgt BM Cardoso,
    Btl de Operações Aéreas (BOA)/MG

  9. Boa tarde grande guerreiro do ar, Sr. Eduardo de Moraes Gomes, sou chefe escoteiro e vi grande utilidade de aprendizado para o escotismo, a manufatura de um cesto desses e do conhecimento de sua utilidade, gostaria muito de fazer um desses em pequena escala para ensinar aos meus jovens do GE. Será que existe a possibilidade de me encaminhar uma cópia dessa publicação em PDF?

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