Heróis de farda – 10 anos

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Texto elaborado pelo 2o. Sargento PMERJ Anderson Fernandes dos Santos, tripulante operacional do GAM/PMERJ, sobrevivente do acidente com a a aeronave Fenix 03 ocorrido em 17 de outubro de 2019.

Como de costume nesta data (17 de outubro), costumo fazer uma postagem de algo muito importante que aconteceu comigo interferindo na minha vida, na da minha família, na de meus amigos e de meus irmãos de farda .

Faço essa postagem desde de 2009 e continuarei postando se Deus permitir até os últimos dias de minha vida. Para que nunca se esqueçam de tudo o que foi feito ali, para que o tempo não apague da memória todos os nossos atos de bravura.

Completa hoje 10 anos de queda da aeronave Fênix 03 da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Essa aeronave caiu na guerra do Morro dos Macacos com o São João no dia 17 de outubro de 2009.

Faziam parte desta aeronave a época o Cap PM Marcelo Vaz, Cap PM Mendes, Cb PM Patricio, Cb PM Stadler, Sd PM Canazzaro e eu Cb PM Fernandes. Fomos chamados para ajudar a impedir esta guerra e proteger os cidadãos de bem que moram nestas comunidades assim como ajudar uma equipe do 6º BPM que estava cercada pelos marginais e já com pouca munição.

Me pergunto as vezes o que nos leva a colocar as nossas próprias vidas em risco, em favor de pessoas que não conhecemos, que muitas das vezes não nos agradecem, não nos dão um copo de água e tão pouco um bom dia. E chego a conclusão que é por que somos diferentes. Temos algo dentro de nós que nos impulsiona a fazermos o bem para protegermos pessoas que precisam de nossa ajuda, mesmo que não agradeçam.

Diz uma frase que “Para que o mal prevaleça basta que os homens de bem não façam nada”, mas nós Policiais Militares e Civis, sempre colocaremos nossas vidas em risco em prol das vidas de vocês, e não permitiremos que o mal prevaleça, mesmo que custe a nossa vida.

Foi isso que aconteceu neste dia 17 de outubro de 2009.

Com a queda da aeronave perdi grandes amigos, grandes irmãos que tive a honra de trabalhar junto. Seus feitos e atos foram dignos de um verdadeiro herói.

Que nunca se apague de nossas lembranças o Soldado PM Canazzaro com um coração valente e prestativo, morreu atingido por um tiro de fuzil na cabeça tentando me ajudar pois eu já tinha sido atingido por um tiro na perna direita. Ele acreditava que se cada um de nós fizéssemos a nossa parte de forma certa conseguiríamos mudar esse Rio de Janeiro.

Que não se apague da nossas memórias o Cabo PM Stadler policial altamente centrado, dedicado ao extremo ao companheirismo e a família, tinha um senso de justiça fora do comum, morreu carbonizado dentro da aeronave foi atingido por um tiro na perna e não conseguiu sair. Trabalhava sempre acreditando que ainda havia esperança para esse Rio de Janeiro.

Que não se apague da nossa lembrança o Cabo PM Patrício policial de sorriso largo, dedicado ao trabalho e sua família. Morreu com cerca de 80 % do corpo queimado no hospital, com sua valentia e coragem conseguiu sair da aeronave, mas não resistiu as queimaduras. Acreditava que por mais que não houvesse reconhecimento da sociedade deveríamos continuar lutando, protegendo sempre os que precisam da nossa ajuda.

Que não esqueçam dos atos dos que ficaram vivos nessa guerra. Não esquecem do Cap PM Marcelo Vaz que com bravura conseguiu pousar aquela aeronave que já estava sem controle devido aos inúmeros disparos que foram feitos contra o helicóptero

Que não esqueçam do Cap PM Mendes que no momento de querer ajudar mesmo ferido com um tiro no pé, deixou de lado a dor e foi tentar apagar o fogo que estava sobre o Cabo Patrício.

Que não esqueçam dos policiais que estavam na outra aeronave que não caiu, mais que estavam nos ajudando também: a saber Cel PM Ramos, Sub Ten PM Afonso, Cb PM Gonçalves, Cb PM Xavier e Sgt PM Cordeiro.

Que não se esqueçam do Cel PM Caveira Busnello que levou um tiro na perna tentando chegar ao local aonde a aeronave caiu.

Que não esqueçam dos camaradas caveiras que com todo conhecimento e experiência ajudaram a impedir um mal maior.

Por fim, que não se esqueçam de mim, tive um tiro na perna direita que quebrou totalmente o meu fêmur, tive o braço direito, as mãos, as coxas e panturrilhas queimadas em 1°, 2° e 3° grau. Passei 52 dias internado no Centro de Tratamento de Queimados me recuperando das feridas e hoje carrego em meu corpo as cicatrizes daquele dia que entrou para história dos heróis da Policia Militar.

Graças a nossa ajuda socorremos um policial baleado, ajudamos os policiais cercados e acabamos com a guerra nesse dia trazendo novamente a paz para estas comunidades. Mesmo com o sacrifício das nossas vidas.

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. João 15:13”

Obrigado Deus pelo milagre realizado em minha vida.

2° Sargento PM Fernandes
Tripulante Operacional
Grupamento Aeromóvel da PMERJ

2 COMENTÁRIOS

  1. Excelente! Muitos se mobilizaram naquele fatídico sábado. Eu estava na Barra da Tijuca e ao saber do acidente me desloquei para o Batalhão de Choque para ver se poderia fazer algo. No caminho, fui informado sobre a ida do CB Patrício para o Hospital dos Bombeiros. Para lá me dirigi e consegui auxiliar o colega de plantão na estabilização do mesmo e em sua remoção para o HFAG. Na mesma noite, recebi um telefonema do Cel PM Eduardo que comandava o GAM e consegui, com a ajuda de amigos médicos, as panorâmicas das arcadas dentárias dos dois PMs mortos ainda na aeronave para a identificação. Estas foram retiradas do CEMAL em um sábado à noite! Na manhã seguinte, ainda consegui uma ambulância do GESAR e te removi para o HFAG sem nem mesmo estar no serviço ativo da PM, cujos médicos nem sempre estão à disposição para ajudar. Triste e lamentável, mas pelo menos muito se aprendeu e você, Vaz e Mendes estão vivos e bem. Que nunca mais ocorra algo assim!

  2. Não sou policial, muito menos piloto, mas como cidadão de bem, que tento ser, meus olhos marejam todas as vezes que assisto a essa e outras tragédias.
    Acredito que não só esses heróis, como todos os outros que se sacrificam para que nós possamos esbanjar nossas vidas em futilidades, sejam lembrados nas escolas, em um dia do ano que seja, desde cedo. Para que nossas crianças tenham uma chance de escaparem de serem soldados do tráfico.
    Que Deus tenha em bom lugar aqueles que tomabaram, traga conforto aqueles que ficaram, coragem aqueles que nos protegem e juízo aqueles que legislam para exemplarmente punir aqueles que merecem.
    Jamais nos esqueceremos !

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