1. INTRODUÇÃO
Definitivamente, o vento pode ser ou não um aliado para a operação de helicópteros. Dependendo da sua intensidade e direção esse agente pode simbolizar segurança ou perigo ao procedimento de voo.
Segundo dados do NTSB, aeronaves de pequeno porte são mais influenciadas por fenômenos relacionados com ventos, revelando-se em uma das principais causas de acidentes aeronáuticos, relacionados a fatores ambientais.
2. A AEROELASTICIDADE
As estruturas aeronáuticas não são totalmente rígidas, sofrem deflexão ao serem expostas a forças aerodinâmicas. A área da engenharia aeronáutica que se preocupa com o estudo das interações entre as forças inerciais, elásticas e aerodinâmicas atende pelo nome de aeroelasticidade.
Os fenômenos aeroelásticos podem ser estáticos ou dinâmicos, abrangendo comportamentos como a Divergência, o Buffetting, o Flutter, dentre outros. O efeito do Martelamento, presente na operação em helipontos elevados, consiste na deflexão de uma edificação, por força da ação do evento, como ocorre na Figura 1.
3. O BLADE SAILING
Além da perda de controle, a ação dos ventos pode influenciar a flexibilidade das pás do rotor de um helicóptero, principalmente quando as pás do rotor ainda se encontram em condição de baixa RPM. Este fenômeno é conhecido como Blade Sailing.
O Blade Sailing caracteriza-se por ser um fenômeno aeroelástico, com a ocorrência de flap excessivo das pás do rotor do helicóptero, durante as fases de engrazamento e desengrazamento dos rotores, favorecido principalmente pela pequena força centrífuga atuante.
Este fenômeno demonstra ser perigoso para qualquer pessoa que desenvolva atividades sob a projeção do disco do rotor principal e extremamente danoso para a fuselagem do helicóptero, como representado na Figura 2.
Operações desenvolvidas a bordo de navios e em plataformas marítimas são os ambientes mais prováveis, nos quais ventos fortes influenciam diretamente o aparecimento do fenômeno, que não deve ser descartado em ambiente terrestre.
Dentre outras razões, esse é um dos motivos pelos quais não se devem permitir objetos e pessoas dentro do perímetro de influência do disco do rotor principal. Conforme consta no manual de um helicóptero amplamente utilizado no Brasil, pelas Unidades de Aviação de Segurança Pública, constata-se a restrição de condição de vento de 50kt [para o vento de proa] e 40kt [para o vento de todas as direções] na condição de acionamento e parada dos rotores.
Estudos realizados demonstraram que rotores articulados são mais propícios à ocorrência do Blade Sailing. A sua flexibilidade, devido à interação do vento com as pás do rotor é mais destacada, quando comparada, nas mesmas condições, com o efeito produzido em rotores semi-rígidos.
4. A GERAÇÃO DE ACIDENTES
Abordando como exemplo a influência do fenômeno na geração de acidentes, observou-se que no dia 19 de abril de 1996, próximo de Franklin, LA, o piloto de um helicóptero Robinson 22, enquanto aguardava o carregamento do helicóptero que pilotava, tomou a decisão de realizar um abastecimento hot.
Para realizar o abastecimento, uma pick up se aproximou do helicóptero, até a área de influência do disco do rotor, que ainda se encontrava em movimento. Após uma rajada de vento forte, as pás do rotor defletiram e atingiram o veículo de abastecimento, infligindo sérios danos em ambos os equipamentos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os fenômenos ligados à natureza, nos últimos anos, passam por mudanças de comportamento. Mesmo que se esteja acostumado a operar em determinada região, não se deve prescindir de um Briefing Meteorológico e do conhecimento sobre o desempenho do helicóptero que opera em condições de vento forte. Estes são hábitos e requisitos sempre oportunos para fortalecer a segurança das operações aéreas.
O conhecimento dos fenômenos que envolvem o voo de helicópteros evita surpresas desfavoráveis. O Blade Sailing é fruto da interação da força dos ventos e a estrutura dos rotores de helicópteros. Sua ocorrência deve ser conhecida e estudada, através da capacitação adequada, principalmente, daqueles que desempenham suas atividades embarcados em helicópteros.
Parabéns amigo Hérlon Lima!!
Seu artigo é uma verdadeira aula sobre o tema. Esse seu mestrado no ITA está surtindo bons efeitos…
Obrigado por divulgar esse conhecimento na nossa comunidade de segurança pública.
Att,
Rodrigo Duton
CAP PMERJ / PCH
Foi com muita propriedade que o prezado Comandante discorreu sobre o tema. Parabéns ao nobre companheiro! Ficamos satisfeitos com a contribuição para aumentar nosso conhecimento!
Caro Herlon,
Parabéns pelo artigo ,é de grande valia informações desse porte, principalmente p nós que trabalhamos em cidades costeiras e somos sempre atingidos por fortes ventos em determinadas épocas do ano.
great post as usual!
Amigos,
Obrigado pelas palavras de incentivo e saibam que elas não servem de motivação apenas para mim. Elas formam o combustível necessário para movimentar o nosso sistema.
Cada vez mais, as informações devem ser criticadas e disponibilizadas para aqueles que as buscam. Porém, elas representam meramente uma versão dos fatos e existem outras verdades no contexto.
A gestão do conhecimento [aprendi muitos ensinamentos com o Maj PMESP Gambaroni…rsrs]oportuniza que cresçamos de forma sustentada e que essa oportunidade sirva de instrumento para interferirmos positivamente no nosso futuro, esse site – que virou um sacerdócio para o meu amigo Beni – é um bom exemplo disso.
Existe um elo fraternal que une os agentes desse sistema…e, como bom baiano, estou de bem com a vida, torcendo pelo nosso sucesso…rsrsrsrs!
Forte abraço,
HER
Grande mestre e amigo Hérlon!
Parabéns pela generosidade, compartilhando conhecimentos com seus companheiros de aviação, isto só prova a sua constante preocupação e seriedade com a aviação de segurança pública.
Boa sorte e felicidades no seu mestrado.
Um abraço do seu amigo
MARCUS Vinícius R.de Oliveira – Cap PMPE
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