Operação policial aérea noturna – um exemplo de sucesso

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PREÂMBULO

Esse artigo apresentado pelo autor, RICARDO GAMBARONI, trata de fato ocorrido em 1995, na cidade de São Paulo, entretanto, não é exclusivo, pois está publicado no site da Cidade de Oakland, Califórnia, EUA, um processo de “dispensa de licitação” de 22 de maio de 2007, para aquisição de um equipamento FLIR 8500XRT e um Broadcast Microwave System Downlink (BMS) no valor total de US$ 296,497,09 (com impostos), em substituição ao FLIR 2000 existente, pois se encontrava danificado, além de ser, atualmente, um equipamento obsoleto.

Na justificativa apresentada pelo Departamento de Polícia, ao Prefeito da Cidade de Oakland, foram apresentados alguns argumentos interessantes e conhecidos por aqueles que atuam na Aviação Policial no Brasil, como por exemplo: auxiliar nos acompanhamentos, a fim de minimizar os riscos de acidentes de trânsito com as viaturas policiais, localizar suspeitos, auxiliar os policiais no solo na prisão de marginais sem correrem risco de morte, localizar armas descartadas pelos marginais na fuga, controle de distúrbios civis, auxiliar o Corpo de Bombeiros em incêndios na cidade e em incêndios florestais, em acidentes automobilísticos, acompanhar suicidas sem que percebam que estão sendo monitorados, bem como facilitar o acesso dessas viaturas para evitar o trânsito e chegar logo ao local, etc.

Mais impressionante do que a transparência dos atos administrativos da Cidade de Oakland, é a preocupação com o que denominamos, aqui no Brasil, de Responsabilidade Social, ou Oportunidades de Desenvolvimento Sustentável, onde, além das questôes técnicas, a aquisição desses equipamentos é também justificada com base em outros três aspectos fundamentais, quais sejam:

– Econômico: O FLIR aumenta a eficiência da Unidade de Apoio Aéreo à noite, por sua vez, aumenta a eficiência dos policiais no solo. Este intercâmbio proporciona aos policiais maiores oportunidades para responder as chamadas de emergência, tornado a conduta mais pró-ativa dos policiais, engajando-se na solução de problemas. Todas estas atividades ajudam a polícia em controlar ou reduzir a criminalidade, tornando a cidade mais segura para nossos cidadãos. A cidade mais segura tem um maior oportunidade de crescer economicamente.

 – Ambientais: Com o auxílio do 8500XRT FLIR câmera, as tripulações de vôo podem identificar rapidamente incêndios e reportarão diretamente ao Oakland Fire Department. Ao identificar e responder rapidamente aos incêndios, os danos à propriedade são diminuídos, resultando em uma diminuição de poluentes tóxicos na atmosfera.

 – Eqüidade Social: a tecnologia FLIR aumenta a eficácia da Unidade de Apoio Aéreo, tornando o helicóptero mais eficiente em buscas aéreas, o que reforça a prevenção da violência e ajuda a facilitar a segurança dos moradores em todas as áreas de Oakland. Nesse assunto o Dartamento de Polícia chega ao detalhe de se preocupar com os idosos e pessoas com necessidades especiais ao afirmar que com o helicóptero equipado com modernas câmeras seria capaz de localizar rapidamente essas pessoas durante uma emergência e auxiliar no socorro delas. 

Como vimos esses equipamentos em conjunto vão além da tecnologia e avançam na área da inteligência policial, minimizando riscos e gerenciando melhor a ocorrência, seja ela policial ou de bombeiro.


RICARDO GAMBARONI

O ano era 1995. O Grupamento Aéreo da Polícia Militar estava ainda em fase de consolidação das operações aeropoliciais noturnas. Era a primeira vez que uma organização policial na América Latina fazia uso do FLIR, que havia sido levado ao conhecimento do grande público havia menos de dois anos, com a divulgação de imagens de combatentes americanos e bombas de precisão na Guerra do Golfo guiados por imageadores térmicos.

Apesar de já estar operando regularmente no período noturno, o Grupamento Aéreo era vítima de certo ceticismo por parte dos policiais no solo quando, por ocasião do apoio das aeronaves em uma busca noturna em áreas sem iluminação artificial, a tripulação da aeronave informava se havia ou não pessoas no local, após rápida visualização do perímetro de busca. Mesmo tendo sido informados de que as aeronaves, além do potente farol de busca, faziam uso de equipamento que permitia a transformação de ondas infravermelhas em imagem e, assim, podiam localizar pessoas e objetos pela diferença de temperatura em relação ao ambiente sem a necessidade de luz visível, havia um certo recato, para não dizer descrédito, na aceitação deste novo instrumento.

Uma ocorrência que marcou esta fase do início da operação noturna com aeronaves e provou irrefutavelmente a importância de tal equipamento nas unidades aeropoliciais foi uma perseguição, naquele mesmo ano de 1995, de dois meliantes armados que haviam sido interceptados pela Polícia Militar Rodoviária na Rodovia Ayrton Senna e empreenderam fuga no sentido da Capital. Durante a perseguição, por diversas vezes, os marginais dispararam em direção às viaturas que os seguiam.

Havia pouco movimento na estrada devido ao horário (cerca de 23:00h); mesmo assim, os policiais militares rodoviários preferiram manter o acompanhamento do veículo em fuga, em vez de interceptá-lo, e solicitaram um bloqueio à frente e o apoio do helicóptero da polícia para melhor atuação. Tal procedimento visa evitar riscos, de uma perseguição em alta velocidade, aos usuários da estrada e aos próprios policiais, sempre que tais medidas são possíveis.

Quando avistaram o bloqueio montado próximo à divisa de municípios, entre Guarulhos e São Paulo, os meliantes abandonaram o veículo e embrenharam-se em matagal às margens da rodovia. Os policiais que efetuavam o acompanhamento iniciaram o cerco e informaram às outras viaturas e ao helicóptero que convergiam para o local. Em razão de a vegetação ser alta e espessa, os policias logo perderam a pista dos meliantes e efetuaram um cerco nos possíveis pontos de fuga, mas a área era relativamente extensa, o que complicava a operação.

Com a chegada do Águia 03, equipado com o FLIR, foi feito um rastreamento do terreno e rapidamente localizados os dois meliantes, que estavam a menos de 30 metros da rodovia, homiziados em depressões do terreno cercado por espessa mata. Foi feita coordenação com os policiais no solo, que se dirigiram ao local com cautela e o mais silenciosamente possível, e, quando já próximos acenderam lanternas e deram voz de prisão aos dois meliantes.

Na detenção dos marginais, foi encontrado somente um revólver, mas um dos policiais havia visto uma pistola na mão do outro meliante momentos antes de embrenharem-se na mata. Então, os policiais passaram à tarefa de tentar localizar a arma, o que sabiam ser como a busca de “uma agulha em um palheiro”. O Tenente da Polícia Militar Rodoviária que comandou a operação, ainda impressionado com a eficiente localização dos meliantes pela aeronave numa escura noite, utilizando-se unicamente do FLIR, informou à tripulação do Águia 03 da existência da segunda arma e indagou se era possível localizá-la.

Mesmo sendo um objeto de pequenas dimensões, a tripulação julgou que seria possível, principalmente se houvesse efetuado disparos, o que teria elevado consideravelmente a temperatura no cano da arma e facilitaria sua localização.

A aeronave manteve-se então em vôo estacionário sobre o local da busca e o Comandante de Operações, manejando o “joystick” do FLIR, passou a esquadrinhar minuciosamente o terreno, visualizando mais atentamente os pontos em que verificasse emissão de calor. Mas, antes mesmo que metade da área fosse vasculhada, avistou um ponto de calor bem acima da temperatura ambiente e, utilizando-se do efeito de zoom do FLIR, pode delinear seu contorno: era a arma.

FLIR 2000

Figura 01 – Equipamento FLIR 2000

O Tenente foi informado e conduzido até o local pelas informações da aeronave. Como a área era pouco iluminada, o Comandante de Operações informava ao Tenente a quantidade de passos e direção a seguir até colocá-lo junto à arma. Aí disse: “A arma localizada está defronte a você, a menos de um passo de distância”. Imaginem a surpresa e convicção gerada na utilidade do equipamento quando o Tenente abaixou-se e, tateando o terreno, localizou a arma que não havia ainda visto, mas que havia sido detectada pela aeronave em vôo.

 

viaturas e policiais FLIR Inc.

Figura 02 – Viaturas e Policiais Vistos Através do FLIR. Nota-se que os veículos foram usados recentemente pela imagem do aquecimento causado aos capôs e sistemas de freios. Fonte: Flir, Inc.

Houve um contentamento geral, pois em questão de minutos o objeto do crime foi localizado. Caso contrário, haveria necessidade de preservação do local até o amanhecer e o início de buscas, o que geraria gasto de pessoal que poderia estar sendo empregado no policiamento da rodovia.

Essa ocorrência, seguida por inúmeras outras em que o equipamento de visão noturna representou o sucesso da operação, demonstrou a importância da dotação de equipamento tecnologicamente sofisticado no emprego policial, e que seu custo, se alto para aquisição e manutenção, economiza horas de trabalho policial, liberando policiais para outras missões e significando muitas vezes o salvamento de uma preciosa vida, como pode ser comprovado em diversas buscas de pessoas perdidas e na detenção de criminosos.


10 COMENTÁRIOS

  1. Companheiros de labuta da aviação policial,

    Estou fazendo uma análise do voo noturno na PMMG e este documentário encaixará perfeitamente quando for analiar a questão logística de nossas aeronaves para o voo noturno.
    O estudo visa verificar quais setores devemos aperfeiçoar e um deles será o logístico. Operamaos nas 24 horas do dia e há pelo menos 5 anos não temos FLIR ou outro equipamento além do farol de busca.
    Além disso, é de interesse do estudo verificar a doutrina existente e regulamentação do voo policial noturno. Se alguém tiver alguma informação a respeito seria muito útil.
    A ausência de uma regulamentação noturna, pelo menos em MG, fez com que tripulações se arriscassem por não haver um referencial do que poderia ser feito à noite. Para se ter uma idéia dois casos chamam a atenção. Duas ocorrências de resgate dentro de uma cava de mineradora em noites escuras e sem referencial luminoso foram fatos que ocorreram no inicio das operações noturnas.
    Um abraço e sucesso a todos!

    Cap Messias Alan de Magalhães
    Piloto PMMG

    • Caro Cap Messias, bom dia, adianto que em São Paulo fazemos operação noturna policial (VFR noturno, na TMA ou 27 nm do aerodrómodo – PADRÃO) e NÂO fazemos resgate aeromédico ou salvamento, por questões óbvias de segurança, entretanto fazemos remoção aeromédica (verificada a real necessidade) entre helipontos registrados ou homologados noturno (dentro da TMA, pois fora dela a aeronave e piloto devem ser IFR). Com todos os anos de operação noturna a operação policial, com o equipamento FLIR é um sucesso, mas não acredito na operação de salvamento ou resgate aeromédico, por ter sérios problemas de segurança e logística. Esse tipo de missão (salvamento e resgate), por ser crítica, é feita durante o dia e em condições meteorológicas favoráveis (VFR / VMC).

      Bons voos!

  2. Prezados policiais aviadores da Região Sudeste,

    A exemplo do que ocorre em São Paulo, na PM do Rio de Janeiro não realizamos de forma rotineira salvamentos nem resgates após o por do sol, considerando o elevado risco de se realizar essas operações em condições meteorológicas desfavoráveis.

    O TIH e a EVAM é realizada principalmente pelos amigos do CBMERJ.

    Houve uma época em que se realizavam rotineiramente operações policiais noturnas; estas eram realizadas pelos amigos da PCERJ.

    No GAM possuímos um FLIR, porém nossas operações policiais noturnas estão em fase de reestruturação operacional e logística.

    Bons voos e sucesso a todos!

    CAP Rodrigo Duton – PCH
    Chefe do Núcleo de Policiamento Aéreo (NPA) – GAM – PMERJ

  3. A crescente utilização do FLIR, na aviação de segurança pública do Brasil, segue uma tendência mundial, na qual a efetividade do serviço é um fator relevante, diferenciado e necessário para a reafirmação do vetor aéreo. O FLIR, aliado com outras tecnologias, como o downlink (sistema de transmissão de imagens via microondas), além de ampliar a consciência situacional da tripulação, permitindo reconhecer e melhor decidir sobre o ambiente da operação, amplificando os efeitos da tridimensionalidade e facilitando a difusão destas informações para os outros elos envolvidos na ação.

    Este equipamento surge também como uma alternativa, no estado da arte, oferecida pela indústria para reduzir os riscos associados à observação em baixa altura, modificando positivamente quantificações de itens avaliados na matriz do gerenciamento do risco. O aumento da altura com o terreno vai depender diretamente da capacidade óptica do equipamento, quanto maior a capacidade de definição de imagens (dentro de características térmicas do ambiente e decupagem de imagem), maior será a possibilidade da aeronave ganhar altura, dentro da camada limite atmosférica e se livrar das ameaças recorrentes, como o efeito dos ventos e turbulências, brownout(particulado em suspensão), wire strike (colisão com fios), dentre outras.

    Atenção especial deve ser dada no momento de aquisição dessas novas ferramentas, já que uma solução de compromisso deve ser tomada entre a disponibilidade de potência das aeronaves que as abrigarão e o incremento no seu peso básico vazio, além observar se o acréscimo de tecnologia, dentro do conjunto da máquina, significa facilidade e não sobrecarga de informações, conduzindo ao aumento desnecessário do workload(carga de trabalho) da tripulação.

    Prezado Beni, mais uma vez, parabenizo-o pela iniciativa e condução acurada do Piloto Policial, uma preciosa e inteligente ferramenta de troca de informações na nossa atividade.

    Hérlon Lima – Cap PM
    Grupamento Aéreo da PMBA(GRAER)

  4. sou do grupo de resgate águia uno em brasilia e gostaria de sabe como eu posso participa de um curso de operaçoes aerias de resgate por favo

  5. eu ja passei por um curso de uma semana de segurança de vôo pelo corpo de bombeiro milita do distrito federal mais não pegamos sertificado de clocusão do curço,pois cada curço que fasemos é muito iportante para nois que atua em rodovias e essi de vocêis nos ajudaria muito

  6. Prezado Sr. Éderson,

    O CBMDF realiza anualmente a Semana de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos do 3ºBBS/AvOp. Trata-se de um evento que visa a elevação da percepção de risco dos envolvidos com as operações aéreas realizadas pela Corporação. Não se trata de um Curso e não são emitidos certificados.
    Como o CBMDF já atendeu algumas ocorrências em que o Grupo de Resgate Voluntário Águia Uno atuava em Águas Lindas-GO e região do entorno, estendemos o convite na semana de prevenção ao Águia Uno visando unicamente a elevação da segurança das operações aéreas.
    Abraços.

  7. Nos USA os Policiais usam aeronaves Policiais direto a noite em apoio aos Policiais nas Viaturas em terra olhem ex Miami e as Grandes cidades Norte Americanas FAROL de busca e FlIR e sem duvida essencial Para OPERAÇAO POLICIAL a noite !

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