PF compra helicóptero de R$ 29 milhões, mas não tem quem pilote

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Helicóptero comprado no ano passado pela Polícia Federal ainda não entrou em atividade por falta de piloto e de contrato de manutenção.

Adquirido nos EUA pela Polícia Federal, o Agusta Westland AW139 nunca levantou voo em missões oficiais. A supermáquina voadora veio do Rio de Janeiro para Brasília na segunda-feira, mas “enferruja” no Brasil desde maio do ano passado. É que a PF não tem ninguém habilitado a guiá-la nem a fazer manutenção

AW139 CAOP Polícia Federal

Um ano e quatro meses após a Polícia Federal (PF) assinar contrato no valor de R$ 28,9 milhões para a aquisição de um helicóptero biturbina de grande porte, a aeronave modelo AgustaWestland AW 139, que deveria ser utilizada em missões policiais, ainda não entrou em operação. A PF sequer sabe quando começará a usar o equipamento que, na segunda-feira, foi transferido para Brasília. Até agora, não há nenhum contrato de manutenção firmado nem pilotos com cursos específicos para comandar esse tipo de modelo.

O helicóptero chegou ao Brasil em maio deste ano, dentro do prazo contratual para a entrega. Ficou parado no Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo. Entre os agentes da corporação, ganhou o apelido de “paralelepípedo” porque não sai do lugar. A Polícia Federal alega que o aparelho ainda não foi recebido oficialmente, portanto, não é responsável por não colocá-lo em operação, apesar de todo o investimento já feito. Questionada, a PF empurrou o problema para a empresa Synergy Aerospace Corp, responsável pela venda.

“A transferência da aeronave para a PF ocorre somente após o procedimento oficial de recebimento, atendidos inúmeros aspectos legais e contratuais. A empresa é obrigada a obter, por exemplo, certificados com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o que demorou para ocorrer, fazendo com que o prazo previsto em contrato de entrega de 12 meses após a assinatura não fosse obedecido pela empresa”, alegou. No entanto, o Correio Brasiliense verificou que o equipamento de prefixo PR-HFV já foi registrado na Agência de Aviação Civil (Anac) como sendo de propriedade da administração pública direta federal.

No período em que o helicóptero permaneceu no Rio de Janeiro, bem como em São Paulo para atendimento das exigências da autoridade reguladora da aviação civil no Brasil, ele não pertencia oficialmente à PF, sendo de inteira responsabilidade da empresa, o que afasta a afirmação de que a aeronave não alçava voo por inexistência de contrato de manutenção ou de pilotos da PF”, afirma a Polícia Federal.

O Correio Brasiliense fotografou a chegada do helicóptero na segunda-feira. É possível perceber o logotipo da Polícia Federal na aeronave. “Embora possua certificado de aeronavegabilidade e certificado de matrícula, inclusive já em nome da Polícia Federal, ambos expedidos pela ANAC, o processo de recebimento oficial da aeronave pelo órgão iniciou-se hoje (10/09/2013), com o voo de aceitação e recebimento”, justificou a PF.

Para a aeronave começar a participar de operações, é necessário um contrato de manutenção. Normalmente, quando equipamentos desse tipo são comprados pelo serviço público, o contrato de aquisição é feito de maneira casada com o de manutenção. Não foi o que aconteceu com o AgustaWestland. A Polícia Federal utiliza o argumento de que só poderia fazer o contrato de manutenção após o recebimento oficial da aeronave. “Pelo fatos expostos, a Polícia Federal assinará contrato de manutenção somente após o recebimento oficial da aeronave. Deve-se esclarecer que a instituição é impedida legalmente de pagar pela manutenção de um bem que oficialmente ainda não lhe pertence.”

Longa espera

Especialista em aviação ouvido pelo Correio Brasiliense informou que, geralmente, os contratos de manutenção são feitos logo na assinatura do contrato. “Há vários casos em que a manutenção é casada com a aquisição. Sempre é assim. É normal. Agora, vão perder mais tempo para licitar esse novo contrato. Coloque, no mínimo, mais seis meses de espera”, atesta.

A PF reconheceu que os pilotos precisam passar por um curso específico. De acordo com a corporação, o treinamento só pode ser concluído em um mês. “Quanto ao treinamento, a PF já possui pilotos com habilidades para conduzir helicópteros. O treinamento voltado especificamente para pilotar esse tipo de modelo tem período de duração aproximado de um mês e requer o pronto emprego da aeronave, uma vez que ela possui características próprias pela sua utilização policial, o que a distingue de outras de uso civil.”

O Correio ouviu um piloto com mais de 30 anos de experiência. “Para comandar um AW 139, o piloto tem que ter experiência em aeronaves de médio e grande portes. Quem pilota um helicóptero Esquilo, por exemplo, não é apto a comandar um AW. É como pular de uma bicicleta para um Lamborghini (carro esportivo de luxo italiano).”

A assessoria de imprensa da PF informou que, até agora, só foram pagos 40% do valor total do contrato. Os 60% restantes serão quitados após o recebimento. “Todos os itens contratuais precisarão ser checados por uma comissão formada por servidores da Coordenação de Aviação Operacional (CAOP) e da Coordenação de Administração (COAD) da PF a partir de hoje (segunda-feira), procedimento que, geralmente, dura alguns dias. Esse procedimento é uma espécie de ‘check list’ para confirmar se a empresa atendeu todos os requisitos listados no contrato de compra e venda”, salientou.

O Departamento de Polícia Federal assinou o contrato número 14/2012 em 14 de maio do ano passado. O pregão presencial ocorreu em 16 de dezembro de 2011. A aeronave é utilizada normalmente para transporte de pessoas e equipamentos. É bastante usada para levar funcionários às plataformas de petróleo em alto-mar.

A empresa Synergy e a Anac foram procuradas para falar sobre o assunto, mas, até o fechamento desta edição, não se pronunciaram.


Ficha técnica

Modelo: AgustaWestland AW 139

Motor: Biturbina

Capacidade: 15 pessoas

Peso máximo de decolagem: 6.800 kg

Velocidade máxima: 310 km/h

Autonomia: 1.250 km

Altitude máxima de operação: 20 mil pés


Fonte: Correio Brasiliense, via FENAPEF

16 COMENTÁRIOS

  1. Nunca que um Esquilo pode ser tao rebaixado assim, e uma máquina muito versátil e pratico na manutenção.
    E comparar essa aeronave a um esportivo Italiano e sinal q o cara nao conhece nem de carro nem muito menos de Helicóptero.

  2. Sempre verificamos casos que demonstram que as pessoas são o maior patrimônio de uma OASP. Elas realizam a gestão e fazem o sistema funcionar, também, são responsáveis quando não funciona adequadamente. Comprar aeronave é sempre mais fácil, administrar tudo que vem nesse processo exige mais preparação.
    Boa sorte ao companheiros da PF que em breve irão superar as dificuldades para a gestão desse novo equipamento e o farão voar em defesa da nossa sociedade.
    Bons voos, com boa gestão!

  3. Esse é o padrão de gestão de competência da Policia Federal!
    Todo mundo indo para os EC145, provado e aprovado pelo mundo todo e inclusive já no Brasil, e os Gestores optam pela máquina acima com esse dinheiro dava para comprar dois EC 145 e sobrava dinheiro. Afinal quem tem dois tem um, quem tem um não tem nenhum!!!

  4. Concordo que o AW 139 é uma super maquina, mas dizer que o Esquilo é uma Bicicleta é sacanagem..
    AW 139 não vejo como grande vantagem para uso policial. Mt dinheiro para pouco uso da PF.
    Contudo, boa sorte e parabéns pela compra.

  5. Sou mecânico em manutenção de aeronave modelo Esquilo (AS 350), e é sem dúvida alguma, uma das melhores máquinas para o serviço policial. Por que será que o estado de São Paulo possui mais de vinte aeronaves modelo Esquilo?

  6. Sobre o equipamento ser bom, ruim, para a OASP, posso afirmar que a aeronave boa é aquela que conseguimos fazer voar, oferecendo formação à força de trabalho (para pilotos, mecânicos, tripulantes e administradores), garantindo manutenção de qualidade, definindo seus procedimentos operacionais e tornando-a instrumento ativo para potencializar as atividades de Segurança Pública e Defesa Civil. Porque no chão, sem voar, qualquer aeronave é péssima.
    Bons voos, com boa gestão!

  7. [#8230;] Na edição de ontem, o Correio mostrou que um ano e quatro meses após a PF assinar contrato no valor de R$ 28,9 milhões para a aquisição de um helicóptero biturbinado de grande porte, a aeronave modelo AgustaWestlando AW 139 ainda não entrou em operação. A Polícia Federal não sabe quando começará a utilizar o equipamento, que foi transferido para Brasília na segunda-feira. Desde maio deste ano, a aeronave se encontra no Brasil. Até agora, não há contrato de manutenção nem pilotos com todos os cursos necessários para comandar esse tipo de modelo. [#8230;]

  8. Dizer que o AW 139 não serve para as operações da PF é pura falta de conhecimento das missões realizadas pala Coordenação de Aviação Operacional, pois ao contrário das outras instituições, a PF cobre todo o território nacional e, principalmente, a região de fronteiras, onde é fundamental o emprego de helicópteros com uma boa capacidade de transporte e grande autonomia. Somente o órgão é capaz de avaliar suas próprias necessidades. Parabéns aos integrantes da CAOP pela excelente máquina. Só para se ter uma idéia, um EC 145 equipado com os acessórios policiais não sai por menos de 10 milhões de dólares. Pode até ser uma bom helicoptero, mas o pós venda…

    • Parabéns ao pessoal da CAOP realmente pela aeronave mas a quem devemos “dar parabéns” p/ uma máquina parada a mais de 16 meses e sem a menor perspectiva de sair do chão nos prox, 6 meses?

  9. Existe algo de podre no Reino da Dinamarca. Dois Bell parados, e um AW 139 parado. Me lembro quando os Bell chegaram, matéria na Revista Força Aérea, os caras armados e equipados nos esquis, altas fotos operacionais e um texto que vendia a ideia de que a PF passaria a ter sua ala aérea de asas rotativas. A Polícia Federal tem que prestar contas desses helicópteros que não voam, dos VANTS israelenses que não voam ou ficaram sem voar um bom par de anos, entre outras falhas absurdas de planejamento e gestão. Incompetência, politiquismo, egos e vaidades estão ACABANDO com o CAOP DPF. Enquanto isso, os vagabundos nas fronteiras, que não tem nada com isso, prosseguem com seus negócios sem serem incomodados. Me desculpem a dureza do post, mas isso aí é uma VERGONHA para a Polícia Federal, que se diz elite. ELITE de quê, de incompetência? E posso dizer isso dessa forma por que sou contribuinte, pago meus impostos e acho uma SACANAGEM essas máquinas paradas e o pau quebrando na fronteira, e a alta cúpula da federal tipo “Não é comigo” com relação a esse descalabro absurdo patético. Desculpem pelo tom raivoso, admiro muita gente no DPF, mas esses helicópteros parados não desce goela abaixo de jeito nenhum, isso é crime de responsabilidade, pelo amor de Deus!!!!!!!!!!!!!!

  10. Colocaram a CAOp na bola da vez. Certamente essas reportagens tem informações de pessoal da própria corporação que, numa atitude irresponsável e inconsequente, acaba denegrindo toda a atuação e gestão do DPF. Dia 15/09 saiu mais uma matéria (Correio Brasiliense) acerca da inoperabilidade dos ERJ145, de maneira superficial e sensacionalista, sem se preocupar com a atividade em sí. Lamento que os “colegas” provoquem esse tipo de ação, pois o Estado democrático de direito possibilita várias ferramentas em defesa da boa gestão e da eficiência da Administração, sem seguir por caminhos desvirtuosos e ardis da denúncia velada (já dizia o adágio: “de boa intenção o inferno está cheio”). É certo que há problemas de gestão, inclusive na disponibilização dos valentes Bell 412 ao estado de SC, mas devemos focar na solução dos problemas, e não simplesmente mostrar a insatisfação negativa, a crítica depreciativa, a chacota pela soberba. Ao DPF cabe recomendar maior integração, colhendo boas práticas das gestões de aeronaves, como, p. ex., a PMBA, a PMESP, o GTA/MA, o GRAESP/PA, dentre várias outras OAvSP. É preciso descer um pouco do salto e calçar as sandálias da humildade, ouvindo quem tem êxito na gestão.
    É momento da aviação de segurança pública se unir, defender e auxiliar os coirmãos da CAOp para a solução de suas dificuldades. Bons voos a todos…

    • Lautert, as vezes tenho mais dúvidas do que certezas sobre o que realmente é uma boa gestão em Aviação de Segurança Pública. Existem muitos interesses em jogo e vale para todo mundo. Somente elucubrando, será que na atual situação, não seria um ato de boa gestão acabar com esse serviço?…..isso acontece todos os dias na Administração Pública…..vem um insano com uma ideia mirabolante….o cara faz o que quer, ninguém toma atitude…..feito o negócio ele vai embora….fica o problema para os burros de carga resolverem…..gente fica aloprada e larga mão…..ai vira matéria de jornal ou de processo no TC e MP……..vc já não viu esse filme?…..isso acontece com todo mundo…..Por isso, também acredito que precisamos nos unir na BOA GESTÃO de FAZER VOAR e não simplesmente em VOAR “para qualquer coisa” ……

      • Concordo em gênero, número e grau nobre mestre Beni…. o ponto fulcral da questão é conhecido por todos os experientes e calejados gestores da aviação de segurança pública: vaidade e seu corolário melindre… Não sou fechado à apresentação de ideias inovadoras, mas mantenho cautela, como vc mencionou, quanto aos “insanos com ideias mirabolantes”. O problema, como vc mencionou, é que esses “experts” gestores passam e deixam o caos para os burros de carga tentarem resolver o que já estava ruim, e ficou pior depois da tempestade. Infelizmente não é uma realidade muito distante de diversas unidades, inclusive no meu ninho, onde a “soberba” de gestores acabam prejudicando toda uma bela atividade. Abço e Bons voos…

  11. Tem uma questão que não sei se é de conhecimento de todos mas na PF só existem 12 pilotos. É isso mesmo 12 pilotos para cuidar de todo território nacional, uma VERGONHA.

  12. ATUALIZAÇÃO: A despeito dos fatos noticiados na matéria, a CAOP já solucionou tais problemas. Desde 2014, possui pilotos treinados e habilitados para operar os AW139. Tais pilotos, que já eram comandantes de Esquilo da instituição, fizeram o curso completo de simulador na Augusta Westland. Foram treinados por instrutores contratados, e já foram alçados à posição de comando dos AW139. E a aeronave já pode ser vista operando normalmente em operações pelo Brasil.

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