Katrina – Resposta a Desastres: O que mudou?
02 de janeiro de 2016 11min de leitura
Uma década após o devastador furação Katrina, as unidades individuais colocam algumas lições em prática. Mas, a integração de respostas de ampla escala ainda é imprecisa.
Ninguém pode dizer que não sabia que ele estava por vir. Mesmo com a depressão tropical passando pelas ilhas do sul do Bahamas no dia 23 de agosto de 2005, mais de 480 km ao sudeste de Miami Beach, os meteorologistas previam que ela se fortaleceria, passaria pelo sudeste da Flórida e moveria em direção ao Golfo do México.
E eles estavam certos. A depressão virou uma tempestade tropical até a meia-noite do dia 24 de agosto; no fim do dia seguinte, bem na altura da cidade de Fort Lauderdale, a tempestade havia virado um furacão.
A força do Katrina oscilou à medida que entrava no oeste do Golfo mas, até às 22 horas do dia 27 de agosto – com ventos na categoria de nível 3 de 115 milhas por hora – ele havia virado para o norte em um caminho projetado que colocava a fronteira da Costa do Golfo de Mississippi e Louisiana na sua mira. O Katrina atingiu esse alvo no início do dia 29 de agosto. Ele destruiu grande parte da costa de Louisiana, Mississippi e Alabama e gerou inundações gigantes em Nova Orleans. O temporal e as inundações mataram mais de 1.800 pessoas. O furacão Katrina foi classificado como o disastre natural mais dispendioso da história dos EUA.
É difícil entender como os efeitos do furacão Katrina nos surpreende. Como observado em uma reportagem de 2006 sobre as respostas à tempestade, o Katrina aconteceu em menos de quatro anos após os ataques terroristas a Nova Iorque e Washington que provocaram um debate intenso sobre os esforços eficientes a respostas a emergências de grande escala. Ele aconteceu um pouco mais de um ano após uma simulação de gestão de emergência ter previsto que um furacão de categoria 4 causaria uma inundação imensa em Nova Orleans; o Katrina ainda aparecia tímido para uma classificação de categoria 4 vista em Bay St. Louis, no Mississippi. O furacão também surgiu apenas oito meses após um tsunami gigante ter matado mais de 200.000 pessoas em 14 países na fronteira com o Oceano Índico.
A resposta de emergência ao Katrina foi, em muitos aspectos, heroica. E foi também, em muitos outros aspectos, altruísta. E, em outros, uma resposta vinda de helicópteros.
Mas, foi também improvisada, descoordenada e, algumas vezes, caótica. Uma investigação do Congresso no início de 2006 considerou os esforços de resposta à emergência “uma falha de liderança”, acrescentando que “a falta de consciência situacional e as tomadas de decisão desarticuladas prolongaram sem necessidade o terror causado pelo Katrina.”
Naquele época, questionou-se, “O que vamos aprender disto?” (R&W, março de 2006, página 28). Hoje, 10 anos após o furacão, olhamos para o que aprendemos através de várias perspectivas diferentes.
Em nível nacional, o bode espiatório do Katrina diz ter aprendido lições importantes. A Agência Federal de Gestão de Emergências dos EUA (FEMA) foi (e ainda é) ridicularizada pelo que muitos consideraram uma coordenação de resposta ao furacão absurda e por ações malfeitas para ajudar as comunidades atingidas a se recuperarem do disastre.
Essa mesma agência liberou no dia 30 de julho uma lista com as mudanças feitas desde o Katrina (com o incentivo e poder do Ato para a Reforma da Gestão de Emergências Pós-Katrina de 2006). FEMA relata ter melhorado as suas habilidades para fornecer apoio aos estados à frente de um disastre. Em 2005, a agência geralmente não podia agir até que o presidente tivesse declarado um disastre federal ou um governador de estado tivesse solicitado ajuda. Hoje em dia, ela pode aumentar os recursos de ajuda a uma área à frente de um disastre.
A agência informou que desenvolveu junto com parceiros de resposta a emergências (como exigido pela lei de 2006) um Quadro Nacional de Recuperação de Disastres que “define claramente as estruturas de coordenação, as funções de liderança e responsabilidades” e fornece “orientação para as agências federais, estaduais, locais, territoriais e para os governos tribais e outros parceiros envolvidos no planejamento e recuperação de disastres.”
A agência FEMA também criou as Equipes de Assistência ao Gerenciamento de Incidentes, consideradas equipes de resposta rápida e integral capazes de serem implantadas dentro de duas horas e chegarem ao local do incidente em 12 horas para o fornecimento de apoio ao comandante local de incidentes, assim como “consciência situacional para os tomadores de decisão federais e estaduais, crucial para a determinação do nível e tipo de apoio federal imediato necessário.”
A agência FEMA e o Departamento de Segurança Interna também têm promovido a adoção de um Sistema Nacional de Gerenciamento de Incidentes. A FEMA descreve esse esforço como “uma abordagem proativa e sistemática para guiar os departamentos e as agências de todos os níveis do governo, as organizações não governamentais e o setor privado para trabalharem juntos e de forma harmoniosa e gerenciarem os incidentes envolvendo todos os tipos de ameaça e risco – independente da causa, tamanho, local ou complexidade.”
A agência tem trabalhado para melhorar as capacidades de busca e resgate através de uma integração maior de sua rede de equipes urbanas e do treinamento das equipes de Resposta a Emergências da comunidade – grupos de voluntários locais empenhados a fornecer uma resposta inicial à região enquanto os socorristas profissionais ficam responsáveis pelos incidentes de larga escala, como um tornado, fucarão ou terremoto.
Especialistas de resposta a emergências reconhecem o progresso de alguns desses esforços, mas também dizem que não tem havido ganhos consistentes para além dos níveis locais ou regionais.
Quanto ao nível estadual, a Guarda Nacional é uma boa partida para procurar por lições aprendidas com o Katrina.
Em 2005, Berry Keeling foi coronel da Guarda Nacional de Louisiana e oficial de aviação do estado para essa organização. Hoje em dia, ele é brigadeiro geral e diretor do Estado-Maior Conjunto da Guarda de Louisiana. Neste cargo, ele é o principal conselheiro e o principal assistente para o adjunto geral (quem comanda a Guarda estadual). Keeling também é o responsável por comandar todas as forças militares que conduzem operações de emergência e contingência em Lousiana.
Uma lição do Katrina, disse ele, é equipar as aeronaves para os disastres mais devastadores. Muitos helicópteros militares, de serviço público, comerciais e privados estavam disponíveis ao longo da Costa do Golfo. Mas, nem todos estavam equipados para comunicarem-se com outras aeronaves e somente alguns puderam desempenhar operações de içamento – a capacidade mais importante nos primeiros dias após o temporal.
“Muitas das nossas aeronaves não tinham capacidade de içar,” disse Keeling. “Portanto, fizemos um grande esforço para obtermos guinchos em todos os nossos helicópteros de utilidade pública. E temos feito muito para aumentar a nossa comunicação através de um rádio por satélite para ter uma capacidade de 700-800 MHz.”
Uma outra lição é coordenar com todas as entidades que podem ser necessitadas em uma resposta de ampla escala. Muitas unidades federais nos EUA tiveram seus recursos aéreos na área após o Katrina: Guarda Costeira, Força Aérea, Marinha de Guerra, Fuzileiros Navais, Alfândega e Proteção de Fronteiras, etc.
As unidades militares geralmente trabalham bem juntas quando as operações são coordenadas com bastante antecedência da sua execução. Mas, elas não estavam preparadas para o Katrina. Keeling, sua equipe e outras organizações criaram procedimentos temporários às pressas. Por exemplo, o Superdome tornou-se o local principal para as pessoas evacuadas. Lá havia um heliponto com um espaço único para pouso que foi logo adaptado para 12 locais de pouso. A equipe de Keeling anotava os procedimentos de tráfego aéreo em um bloco amarelo e fazia cópias para os helicópteros que chegavam.
Hoje, “escrevemos um plano de operações para todos os riscos e perigos envolvidos que cobre, em grandes detalhes, não apenas o que estamos fazendo, mas como estamos coordenando as operações com as agências locais, estaduais e federais,” disse Keeling. Ele trabalha com frequência com outras unidades de guarda e agências de segurança pública para aprimorar os planos de resposta a disastres, realizar conferências para a troca de informações em lugares como Nova Iorque e Washington, D.C., e participar de treinos.
Lições também foram aprendidas no nível local.
Em Nova Orleans está o condado de Jefferson. No Escritório do Xerife do condado, “nós conversamos todos os dias” sobre as lições aprendidas com o furacão “e como temos tentado incorporá-las nos equipamentos que precisamos, nos nossos treinamentos e nas nossas preparações para cada temporada de furacão,” disse o Coronel Robert E. Woods. Ele é o comandante do escritório para as operações especiais, as quais incluem a divisão de aviação.
Quando o furacão atingiu o país, o escritório operava um OH-58 do exército que partia do Aeroporto Internacional de Nova Orleans Louis Armstrong. Mas, as limitações do helicóptero monomotor leve ficaram aparentes nas operações que exigiam o içamento de sobreviventes em tetos e o transporte de feridos que necessitavam de primeiros socorros.
O Escritório do Xerife opera agora um 407 (encomendado antes do Katrina) e um UH-1H. Ambas as aeronaves têm uma melhor capacidade de operar missões de aviação policial e busca e resgate.
Durante a resposta ao furacão, as tripulações estavam em seus limites com aeronaves operando de 12 a 15 horas por dia por duas semanas, contou Woods.
Após o Katrina, o escritório expandiu o seu número de pilotos, incluindo funcionários trabalhando em tempo integral e de reserva para garantir um revezamento adequado dos aviadores. O escritório também tem treinado seus membros que não fazem parte da unidade de aviação para servir como oficiais de voo tático de apoio.
É importante observar que uma lei de 2006 pressionou a Agência Federal de Gestão de Emergências a melhorar a resposta a disastres de ampla escala. No entanto, tais respostas continuam descoordenadas em muitas áreas.
Banco de Dados dos Helicópteros?
Matt Zuccaro, presidente da Associação Internacional de Helicópteros (HAI), disse, em 2006, que estava “muito empenhado” a compilar um banco de dados completo com os recursos de helicópteros disponíveis para os gestores de respostas a emergências do mundo todo.
A ideia surgiu antes do Katrina, diante do aumento de frustrações com o grande número de helicópteros privados e corporativos na cidade de Nova Iorque que não eram usados em operações de emergência após os ataques terroristas do dia 11 de setembro de 2001.
Zuccaro disse em 2006 que as operadoras e os oficiais do setor estavam “muito entusiasmados com a ideia”. “Qual o melhor repositório para esse tipo de informação do que a HAI?”
O banco de dados incluiria informações de contato para as operadoras que podem fornecer os serviços necessários, os tipos de helicópteros disponíveis, suas localizações e suas capacidades, incluindo se a aeronave é equipada com guincho ou se poderia usar macas ou sistemas de combate a incêndio.
Alguns esforços iniciais foram feitos para compilar o banco de dados, mas não é claro ainda se algo foi feito com isso. A Associação não respondeu às repetidas solicitações de esclarecimento sobre o assunto.
Os EUA dependeram da Guarda e das Reservas
O exército dos EUA tomou medidas proativas ao responder ao Katrina, segundo uma revisão de 2006 feita pelo Gabinete Federal de Responsabilidade Geral (General Accountability Office – GAO).
A resposta começou antes da ocorrência do Katrina, no dia 29 de agosto de 2005, e foram enviadas mais de 70.000 tropas: cerca de 50.000 da Guarda Nacional e 20.000 de equipes com componentes ativos, disse GAO. A resposta foi baseada na chamada de junho de 2005 do Pentâgono para uma dependência focada na Guarda e nas Reservas para as missões de suporte civil.
Algumas das razões para essa dependência estão que a Guarda e as Reservas possuem capacidades de suporte civil fundamentais e estão localizadas em 3.200 comunidades espalhadas por todo os EUA. Essa dependência surgiu de catástrofes passadas quando as forças de serviços ativos desempenhavam funções maiores nas respostas.
Fonte: Rotor & Wing/ Reportagem: Ernie Stephens & James T. McKenna
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