No ENAVSEG 2025, o BPMOA/PR apresentou — com dados, casos reais e transparência — como tecnologia embarcada (especialmente o imageador eletro-óptico/IR) muda o resultado operacional, a segurança de voo e a cultura das Unidades Aéreas de Segurança Pública (UASP). Mais do que equipamentos, a mensagem central foi: “aviação sem entrega é hobby”. Resultado e método caminham juntos.

Assista ao vídeo da palestra no final deste artigo.


Linha do tempo: da multimissão à aeronave dedicada

O Ten Cel Müller contextualizou a virada estratégica do Projeto Falcão no Paraná: a transição de aeronaves multimissão para plataformas dedicadas ao policiamento, equipadas com pacote tecnológico completo. Em 2,5 anos de operação dedicada, a produtividade e o nível de segurança mudaram de patamar — a ponto do BPMOA expandir de 2 para 5 aeronaves com tecnologia embarcada.

O que é o Projeto Falcão

Iniciado com base em referências internacionais (visita técnica a Sacramento/CA em 2018), o projeto amadureceu com aprendizado em linha: errar, corrigir, padronizar e treinar. Hoje, o BPMOA opera R66 com Wescam MX-10, farol de busca SX-7, alto-falante externo, sistema de missão com mapas móveis, gravação/transmissão (incluindo Starlink) e caixas de áudio dedicadas para separar comunicações (aeronáutica x tática).


Tecnologia embarcada: ferramenta tática, não “perfumaria”

O Cap Lazzarotto desmontou mitos comuns:

  • Imageador não é “extra”: é a ferramenta central de consciência situacional, que permite voar mais alto e mais seguro, manter o alvo com estabilidade, reduzir pairados e diminuir risco em área urbana.
  • Plataforma de observação e intervenção: no cenário de fronteira (PR), a aeronave leve com imageador apoia cerco, desembarque e abordagem, quando o apoio em terra está distante.
  • Sistema de missão integrado: atua como “hub” entre câmera, mapas, gravação, transmissão e recursos de IA (ex.: MTI para detecção de alvos em movimento).

Casos exibidos no vídeo mostraram acompanhamentos discretos a 3.500 pés AGL, identificação do alvo por meio de tornozeleira eletrônica no IR ao meio-dia, guiança de viaturas em mata fechada, recuperação de 43 kg de pasta base e perseguição aérea com link ao vivo para equipes em solo.


Cultura e gente: a “teoria das três pontas”

Mais do que hardware, a palestra focou em organização e cabine:

  • 1P (comandante): voa o perfil certo para o sensor (800 ft/50 kt/15° de bank, sem “perfil Vietnã”).
  • 2P (coordenação/rádio): não é “co-piloto” passivo; é quem comanda a informação e a comunicação tática.
  • OAT/TFO (operador): domina o sensor e lê o cenário (“tirocínio policial”).

Se uma ponta falha, a cabine entra em sobrecarga. Por isso, o BPMOA reformulou seleção e formação, ampliando de 5h para 50h a carga de Tecnologia Embarcada no curso de operadores e exigindo inglês técnico para acesso à bibliografia e doutrina (Tactical Flying, artigos do TFO, etc.).

Mantra operacional: treine enquanto patrulha.
Em cada saída, a tripulação pratica acompanhamento de alvos fictícios, comunicação tática e emprego do sensor — e transforma voo de presença em produtividade.


Integração, transmissão e cadeia de custódia

  • Transmissão de imagens: no PR, a solução com 5G multi-operadora + Starlink oferece link estável; o TFO gera um link e compartilha com quem decide (C2) ou com viaturas específicas (tablet na equipe K9, p.ex.).
  • Doutrina de divulgação: overlays removidos, guarda controlada e liberação via cadeia de comando/Ascom, equilibrando dividendo institucional e sigilo tático/jurídico.
  • Métricas: cada voo gera BO que alimenta BI (BIA, CAP GEO). O patrulhamento é planejado por hotspots de crime (hora/local/modalidade), o que permite mostrar impacto e sustentar investimento.

Mesa redonda: Espírito Santo e os desafios da multimissão

O Ten Cel Kunsch trouxe a visão do NOTAER/ES (unidade integrada e multimissão), operando MX-15 com alcance maior e usando a mesma lógica de sistema de missão e transmissão.
Desafios práticos: alternar a aeronave entre policial, aeromédico, SAR e fiscalização ambiental implica monta/desmonta do sensor — e mesmo assim a disponibilidade tem sido alta. O ganho de efetividade foi tal que “voltar a voar sem câmera” frustra as tripulações e reduz a expectativa de sucesso.

Destaques do debate:

  • Comunicação ainda é um gargalo em algumas UASP (migração para redes P25, cobertura e interoperabilidade).
  • Treinamento contínuo e especialização por aptidão (nem todo OAT precisa ser “multiespecialista”; alguns perfis devem focar em tecnologia/sensor).
  • Uso marítimo/águas: IR atua sobre a lâmina d’água (perturbações e MTI ajudam); corpos submersos não emitem IR — exigem doutrina específica.
  • Guia aéreo avançado: ES já testou modelo “base móvel/recepção”; PR prioriza briefing robusto + enlace ao vivo e apoio remoto.

Lições objetivas para gestores de UASP

  1. Defina a prioridade institucional: multimissão x dedicada. Se a tecnologia for central, garanta aeronave dedicada.
  2. Invista em gente: seleção por perfil, formação tática do 2P, OAT com domínio do sensor e inglês técnico.
  3. Padronize a cabine (caixa de áudio separada, SOP do sensor, perfil de voo para a câmera).
  4. Meça e comunique resultados (BI, hotspots, casos emblemáticos com cadeia de custódia).
  5. Integração real: transmissão ao vivo para quem decide e procedimentos para uso/guarda/divulgação de imagens.
  6. Treinar é operar: patrulhamento = laboratório de proficiência.

Conclusão

O Projeto Falcão demonstra que tecnologia embarcada + método + cultura geram mais segurança operacional, mais entrega e mais legitimidade para a aviação de segurança pública. A mensagem que fica é simples e potente: estar no lugar certo, na hora certa, com a ferramenta certa e a tripulação certa — repetidas vezes.


▶️ Assista à palestra completa

Créditos: ENAVSEG 2025 – Organização, palestrantes e equipes do BPMOA/PR e NOTAER/ES.
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