A Aviação de Segurança Pública: expansão, impacto e os desafios em 2025
08 de dezembro de 2025
5min de leitura
Durante o ENAVSEG, o Coronel da Reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Alex Mena Barreto, piloto policial com mais de 20 anos de atuação na aviação policial, apresentou a palestra “A Aviação de Segurança Pública no Brasil: Expansão, Impacto e Desafios em 2025”, trazendo uma análise profunda sobre a evolução do setor na última década e o papel decisivo da aviação no cenário de segurança pública nacional.
Com formação sólida — incluindo doutorado em Ciências Policiais, habilitações de alta complexidade e extensa experiência operacional — Mena Barreto ofereceu uma visão realista, técnica e, ao mesmo tempo, inspiradora sobre onde estamos e para onde podemos avançar.
Assista ao vídeo da palestra no final deste artigo.
A Evolução de 2014 a 2025
O palestrante iniciou sua fala relembrando o contexto histórico: em 2014, quando apresentou a primeira pesquisa nacional sobre as Organizações de Aviação de Segurança Pública (OASPs), o setor possuía estrutura limitada, poucos dados e um cenário ainda embrionário de integração entre estados.
Hoje, dez anos depois, o panorama mudou radicalmente.
Expansão das Bases Operacionais
De 74 bases (2014) para 118 bases operacionais em 2025 – um crescimento de 59%.
Estados como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Pará se destacam pela descentralização e ampliação da cobertura operacional.
Casos emblemáticos, como o do Acre, mostram uma transformação surpreendente: de apenas 1 helicóptero em 2014 para 3 aeronaves e base descentralizada em Cruzeiro do Sul.
A evolução demonstra que as Organizações de Aviação de Segurança Pública deixaram de ser estruturas isoladas e passaram a compor uma malha nacional operacional robusta, capaz de responder rapidamente a emergências em qualquer ponto do Brasil.
Frota Aérea: Uma Potência que Cresce Silenciosamente
Nas frotas, o avanço é ainda mais expressivo.
Aeronaves de Asa Fixa
107 aeronaves em 2025, sendo 66 turbinas e 41 pistão.
Houve uma inversão em relação a 2014, quando predominavam aeronaves de pistão oriundas de apreensões.
Modelos como Caravan, King Air, Air Tractor e até jatos executivos Citation passaram a compor a aviação de estados como Mato Grosso, Pará e Minas Gerais.
Helicópteros
216 helicópteros em 2025.
A linha H125 (Esquilo) continua dominando com mais de 120 unidades.
Crescimento das aeronaves biturbinas é marcante: EC145, H135, AW109 e outros equipamentos multimissão avançados, operando com guincho, kits aeromédicos e sistemas de visão noturna.
Total
De 176 aeronaves (2014) para 322 aeronaves (2025)
Um crescimento de 82% em uma década — sem qualquer política pública estruturada que previsse tal expansão.
A explicação, segundo Mena Barreto, não foi uma política pública estruturada, seja federal ou institucional, mas sim abnegação, esforço individual e obstinação das equipes das Organizações de Aviação de Segurança Pública, que buscaram convênios, financiamento, recursos próprios e parcerias para viabilizar o crescimento de suas unidades.
O Gargalo da Década: Pilotos, Tripulantes e Mantenedores
A evolução das aeronaves não acompanhou proporcionalmente o crescimento do número de profissionais no segmento.
Efetivo Nacional
3.318 profissionais atuam na Aviação de Segurança Pública (pilotos, tripulantes, médicos, enfermeiros e técnicos).
Crescimento de:
42% no número de pilotos
31% no número de tripulantes
Em contraste com 82% de crescimento da frota.
O impacto é claro: “Hoje o gargalo não é mais aeronave. É gente.”
A dificuldade em formar pilotos, tripulantes, instrutores e mecânicos se tornou o principal desafio estrutural da aviação pública no Brasil para os próximos anos.
A Dimensão Econômica das OASPs
Os números apresentados impressionam:
R$ 1 bilhão movimentado em 2024, somando investimento + custeio.
15 a 20 unidades não conseguem contabilizar seus custos — evidenciando fragilidades de gestão de indicadores financeiros em algumas estruturas estaduais.
Apesar dessa lacuna, a aviação policial hoje tem tamanho físico e econômico comparável a grandes órgãos federais e deve crescer ainda mais com novas contratações, modernizações e processos de locação de aeronaves.
Resultados Operacionais: O Que Produzimos?
Uma das reflexões mais importantes da palestra gira em torno da mensuração de resultados.
Embora dados de horas de voo estejam relativamente consolidados — chegando a 60 mil horas anuais somadas — ainda não existe uma padronização nacional para indicadores de resultados:
prisões com apoio aéreo,
salvamentos,
resgates,
buscas,
atendimentos aeromédicos.
Ainda assim, os números apresentados são impressionantes:
Transportes Aeromédicos e de Órgãos
878 transportes de órgãos (dados consolidados).
Destaques nacionais:
COMAVE (MG) com 235 órgãos transportados;
SOAER (RJ) com 214 órgãos transportados;
Casa Militar do Paraná com 133 órgãos transportados.
A FAB inteira realizou 234 transportes no ano — número próximo ao da SOAer (RJ) com apenas duas aeronaves.
Vidas Salvas
8.513 pessoas salvas em 2024 pelas Organizações de Aviação de Segurança Pública.
Segundo o palestrante: “Para nós, é mais uma hora de voo. Para eles, é uma nova chance de vida.”
Casos como o da Polícia Civil de Santa Catarina, com mais de 600 vidas salvas, reforçam o protagonismo das aviações estaduais na área aeromédica.
Padronização Urgente: O Grande Desafio Técnico do Setor
Dez anos depois, um problema identificado em 2014 permanece:
Não existem indicadores padronizados.
Não existe um dicionário de dados comum entre estados.
Termos como “resgate”, “salvamento” e “busca” variam entre bombeiros, PMs, polícias civis e Detrans.
Para Mena Barreto, essa padronização não deve vir apenas “de cima”, mas sim de iniciativas práticas das próprias unidades: “Por que esperar alguém fazer? Por que não fazemos nós mesmos?”
Uma Potência com Síndrome de Vira-Lata
O ponto alto da palestra foi a constatação: A Aviação de Segurança Pública possui mais helicópteros que as Forças Armadas brasileiras.
OASPs: 322 aeronaves, sendo 216 helicópteros (2025)
Forças Armadas: 195 helicópteros
Apesar disso, o setor ainda enfrenta resistência regulatória, dificuldades políticas e pouca visibilidade estratégica.
Segundo Mena Barreto: “Somos uma potência. Precisamos tomar posse disso.”
Onde estaremos em 2035?
O palestrante encerrou com uma provocação:
Seremos 600 aeronaves em 2035?
Teremos 2 mil pilotos?
Haverá indicadores nacionais unificados?
Estaremos mais integrados e teremos uma resposta operacional ainda mais rápida a desastres como o do Rio Grande do Sul?
E relembrou uma frase de John Kennedy: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer pelo seu país.”
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