SAER/PCERJ soma mais de 50 missões este ano

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Rio de Janeiro – “A sensação que tenho é que ele vai destruir a minha casa.” O relato é de uma moradora do Complexo do Alemão assustada com os sobrevoos das aeronaves dão apoio à polícia em operações no local. Nas últimas semanas, o helicóptero blindado da Polícia Civil voltou a ser o centro das atenções no Rio.

Helicóptero da Polícia Militar participa de operação na Cidade de Deus Foto: Reprodução/ TV Globo
Helicóptero da Polícia Militar participa de operação na Cidade de Deus Foto: Reprodução/ TV Globo

Dessa vez, o Bell Huey II, que já saiu de cena algumas vezes por falta de verba para manutenção, ressurge como ferramenta essencial da política de segurança pública adotada por Wilson Witzel. Só neste ano, o equipamento foi usado em mais de 50 missões em todo o estado, segundo fontes da Polícia Civil.

O “caveirão do ar” ou “sapão”, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), é totalmente à prova de tiros, inclusive as pás da hélice. A blindagem suporta até disparos de metralhadora .30. Espaçoso, ele tem capacidade para 12 tripulantes ou dois pilotos e quatro policiais operacionais.

O aparelho de quase três toneladas foi fabricado nos Estados Unidos em 1967 e utilizado por soldados americanos na Guerra do Vietnã. Adquirido pelo governo estadual em 2007 por U$ 4,1 milhões, passou por modernização e entrou em operação em território fluminense no ano seguinte. Consome 250 litros de combustível por hora e requer manutenção de R$ 750 mil por ano. O modelo é único no Brasil, afirmam especialistas.

Foi a bordo do Bell Huey II que o governador participou de uma operação em comunidades de Angra dos Reis para “pôr fim à bandidagem”, conforme afirmou em um vídeo que publicou em suas redes sociais.

Um outro vídeo, também divulgado por Witzel, mostrava um atirador disparando uma rajada de dez tiros para baixo, na direção de uma tenda usada por cristãos da Assembleia de Deus para oração.

A atitude de Witzel embasou a denúncia à Organização dos Estados Americanos (OEA), feita pela presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputada Renata Souza (Psol). Nove deputados federais da bancada do Rio também reagiram.

Governador do Rio, Wilson Witzel, participa de operação policial em Angra dos Reis Foto: Reprodução
Governador do Rio, Wilson Witzel, participa de operação policial em Angra dos Reis Foto: Reprodução

Convidados pelo governador para uma reunião, eles se recusaram a comparecer ao encontro. Em nota, explicaram ser um “protesto à política homicida que vem sendo posta em prática no estado e divulgada com fervor nas redes sociais do governador”.

O uso da primeira e única aeronave blindada da corporação também recebeu duras críticas depois que oito suspeitos foram mortos no Complexo da Maré. À Defensoria Pública, moradores relataram disparos a partir do helicóptero, disseram que havia possibilidade de rendição e vidas poderiam ter sido salvas.

Quase uma semana depois, a Divisão de Homicídios da capital realizou a perícia no local e encontrou indícios de forte resistência por parte dos criminosos.

Durante o tiroteio, o desespero entre alunos e professores dentro das escolas foi, de novo, alarmante. As medidas de proteção nas unidades de ensino daquela região, inclusive, foram alterados. Agora, durante ações com auxílio do helicóptero, professores e alunos são proibidos de buscar refúgio no último pavimento.

“Antes, o receio sempre foi vir alguma bala perdida pelas laterais. Agora, sabendo que também atiram de cima, não é mais seguro ficar no último pavimento. Todos descem e deitam no chão dos corredores dos andares de baixo com medo de um tiro vir do alto”, revela um professor da rede municipal.

Durante o tiroteio que matou oito indivíduos suspeitos de, segundo a polícia, arquitetar uma invasão à comunidade de São Gonçalo, estudantes, deitados no chão de uma escola, tentavam identificar as armas usadas pelos atiradores. Conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Rio (CRP-RJ), Roseli Goffman afirma que os filmes de guerra viraram realidade.

 “(Os filmes) estão sendo vividos ao vivo, fazendo parte do cotidiano dessas crianças, que precisam inventar alguma forma de superar o trauma”, analisa. “As armas fazem parte do cotidiano de nossas crianças, dos confrontos que elas vivem e também nas escolas. A capacidade inventiva delas é o que ajuda a superar o trauma.
As crianças precisam inventar mundos possíveis, onde elas possam viver até a fantasia de que isso é um filme, onde vão aprender a identificar quais são as armas pelo som. Acho que isso é um alerta para a população brasileira, pois o que está acontecendo no Rio existe uma tendência de ser reproduzido em outros estados”, concluiu.

Há sete meses, ainda durante a intervenção federal, o então secretário de Segurança, general Richard Nunes, cumpriu uma decisão judicial e estabeleceu um protocolo para ações das polícias Militar e Civil.

Pela nova regra, as operações não podem ser feitas em horários de maior fluxo nas proximidades de escolas, creches e postos de saúde. Em caso de uso de helicópteros, os policiais não podem disparar rajadas, apenas tiros intermitentes.

Os disparos só são autorizados para legítima defesa dos tripulantes, de equipes em terra e da população.

Presidente Comissão de Segurança Pública da OAB Federal, Breno Melaragno ressalta que o uso do aparelho é necessário, mas deve ser criterioso.

“O que não pode haver em hipótese alguma, independente de protocolos, é exposição a risco da população moradora do local. É algo inconcebível. É um emprego necessário para o policiamento, mas tem que ser feito de maneira muito cuidadosa”, defende.

APOIO E SALVAMENTO

Considerada uma aeronave multimissão, o “caveirão do ar” também é empregado na geração de imagens e videomonitoramento, salvamento marítimo e em altura, transporte aeromédico e missões humanitárias — como aconteceu em 2011, na Região Serrana do Rio, após a tragédia climática que deixou 918 mortos e milhares de desalojados e desabrigados.

Helicóptero da Polícia Militar participa de operação na Cidade de Deus Foto: Reprodução/ TV Globo
Helicóptero da Polícia Militar participa de operação na Cidade de Deus Foto: Reprodução/ TV Globo

Era a única aeronave que, em teto baixo, levantava voo para realizar resgates e transportar mantimentos. Na época, o então diretor-geral de polícia especializada, delegado Ronaldo Oliveira, coordenou por três dias o apoio aéreo.

“Fizemos diversos voos em Teresópolis e conseguimos fazer vários resgates, inclusive o de um policial e um cachorro que ficaram ilhados na delegacia de São José do Vale do Rio Preto”, lembrou Oliveira, defendendo o apoio técnico do blindado em operações desencadeadas em favelas onde há resistência de traficantes. “Todos os policiais são altamente treinados e experientes, são pessoas que seguem totalmente o protocolo.

O uso da aeronave é fundamental, cabe ao técnico que está dentro dela fazer um bom uso”, salientou ele, lembrando que em 2016 a falta do helicóptero na ação realizada no Complexo da Maré viabilizou a fuga do traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus, o Fat Family, e contribuiu para que dois agentes fossem feridos.

Em 2009, um helicóptero da PM foi abatido por traficantes do Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Três policiais morreram, outro três ficaram feridos. O helicóptero fênix, que tinha apenas o fundo blindado, foi atingido por disparos de bandidos durante uma operação para acabar com a guerra entre bandidos rivais.

Para o ex-secretário Nacional de Segurança Pública coronel José Vicente da Silva Filho, a aeronave “não é para brincar ou fazer demonstrações”.

“O helicóptero é um instrumento potente estritamente usado para proteger a guarnição na hipótese de área de risco, mas não para atirar de cima para baixo se não for em legítima defesa. A aeronave não pode ser transformada em arma de guerra.”

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