Você está pronto para voar em um ambiente de risco?

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Em Maio/2010, um helicóptero da polícia de Porto Rico em uma ocorrência de acompanhamento a um veículo foi atingida por disparos vindos do solo. O copiloto veio a falecer e outro tripulante ficou seriamente ferido.

Em Maio/2008, um helicóptero do Los Angeles County Sheriff’s Department foi atingido por dois disparos em uma missão de apoio a buscas a um assaltante. Ninguém se feriu.

Durante o Ano Novo de 1995, o helicóptero da polícia de Riverside foi chamado para atender uma ocorrência de disparos de arma de fogo , e ao chegar ao local identificou uma “festa” onde os indivíduos estavam efetuando disparos a esmo. A aeronave foi atingida pelos disparos, ferindo o copiloto e provocando vazamento de combustível.

Em Janeiro/2005, o helicóptero do Departamento de Polícia de Virgínia estava apoiando uma ocorrência de troca de tiros quando foi atingida quatro vezes tendo de realizar um pouso de emergência devido a vazamento de combustível.

Em outro caso, após apoiar um acompanhamento de um veículo, onde aparentemente o indivíduo estava se entregando, o helicóptero do San Bernardino County Sheriff’s Department foi alvejado pelo indivíduo. O piloto ficou gravemente ferido, a aeronave pousou com a assistência do TFO (Tactical Flight Officer, que não era piloto) e assim que em solo, o piloto veio a ficar inconsciente.

Em Outubro de 2009, a aeronave do GAM para Polícia Militar do Rio de Janeiro em apoio a uma incursão ao Morro do Macaco foi alvejada por vários disparos e começou a pegar fogo em voo. O piloto mesmo ferido tentou efetuar um pouso de emergência, mas a aeronave foi tomada pelas chamas. Dois tripulantes faleceram e outros dois ficaram seriamente feridos por queimaduras e/ou ferimentos de arma de fogo.

E você, está pronto para voar em um ambiente desses ?

ALTITUDE

Como a maioria das operações aéreas de apoio são efetuadas basicamente com o utilização da acuidade visual da tripulação, muito dificilmente a altitude da aeronave estará acima de 1000 pés AGL, mas em alguma necessidade específica (observar algum detalhe ou veículo) essa altitude pode se resumir a menos de 100 pés AGL.

O cálculo de alcance de uma arma de fogo depende de diversas variáveis, que incluem desde o tipo de munição usada, comprimento do cano, tipo de pólvora, peso do projétil e condições atmosféricas, entre outras.

Em uma pesquisa publicada no jornal da Association of Firearms Examiners and Toolmarks Examiners (AFTE) de autoria de Lucien C. Haag, em 1990, bem como o estudo publicado pelo Ballistics Section of South Africa Police de autoria do Capitão D. D. van Niekerk,em 1995, chegou-se aos seguintes dados de alcance de altitude:

Figura 1: Balística Vertical (pesquisa de publicada no jornal da Association os Firearms Examiners and Toolmarks Examiners (AFTE) em 1990, bem como o estudo publicado pelo Ballistics Section of South Africa Police,em 1995)

Diante de tais dados, verifica-se quão vulnerável uma aeronave policial permanece quando em apoio a uma ocorrência policial de ser atingida por disparos de arma de fogo.

ALCANCE

Segundo as pesquisas, o alcance máximo de uma arma de fogo se dá quando disparada em um angulo de 36 graus com o solo.

Apenas como referência, um projétil de 9mm tem um alcance aproximado de 1600 metros, e algumas munições de fuzis chegam a ter uma alcance acima do dobro dessa marca.

Na pesquisa (2), um projétil de fuzil AK-47 disparado em sua angulação ótima (36,26 graus) ao realizar sua trajetória balística atingiu uma altitude de 1.897 pés e atingiu o solo a mais de 1800 metros  de distância.

VELOCIDADE

A critério velocidade de uma aeronave deve sempre ser analisado pelos pilotos tendo em vistas a performance do equipamento através do diagrama de altura versus velocidade (“curva do homem morto”), bem como outros procedimentos de emergência, como falha do motor ou perda de um dos motores, perda do rotor de cauda, perda de hidráulico, entre outras características específicas de sua aeronave.

RAIO DE ÓRBITA

A utilização da trajetória circular em torno de um ponto específico é uma técnica de pilotagem muito utilizada na aviação policial em si, mas para ser efetiva  também se recomenda que a tripulação tenha em mente em diminuir seu tempo e tamanho de exposição ao perigo em solo.

A teoria é simples, uma aeronave a 1.000 pés de distância de uma ameaça é um alvo maior do que outra que esteja percorrendo um raio de 2.000 pés.

A distância ainda tem a influência da altura da aeronave. Por exemplo, a aeronave voando em uma altura de 600 pés AGL em uma trajetória de 1.000 pés de raio de um ponto, estará a uma distância de 1.166 pés do ponto.

Mantendo um raio maior de distância, a aeronave fica com a vantagem de ser uma alvo difícil de ser adquirido por um atirador com uma arma portátil. Só para ter um exemplo, um erro de visada de meio grau para um disparo em uma trajetória balística ascendente de 1.000 metros de altura causa um desvio de cerca de 50 metros do projétil.

COBERTURA e ABRIGO

Cobertura é a técnica de utilizar algum obstáculo que bloqueie os projéteis, enquanto que abrigo é a técnica de utilizar algum obstáculo que apenas esconda o alvo, mas não provê proteção.

A técnica de utilização de abrigo pode proporcional uma significativa vantagem psicológica em um ambiente hostil.  As tripulações devem sempre analisar o local de atuação buscando locais e trajetórias que provejam cobertura e abrigo caso necessário.

Um bom exemplo disso foi relatado pela tripulação da aeronave da LAPD que atuou no famoso roubo a banco de North Hollywood. Quando o suspeito voltava sua atenção e sua arma para a aeronave, o piloto aumentava a velocidade da aeronave, localizava sua posição e direção e então buscava abrigo atrás do prédio do banco e imediatamente reduzia a velocidade da aeronave.

Assim, o suspeito perdia a aeronave de vista e retornava sua atenção para as ruas, liberando a aeronave para efetuar uma novo órbita.

As tripulações devem sempre estar atentas e sempre analisar as características do local do apoio para em caso de necessidade utilizar tal técnica para proteção da tripulação.

PROTEÇÃO BALÍSTICA

Assim como a utilização de coletes de proteção balística por um policial, a proteção balística de uma aeronave policial deve ser considerada apenas como último recurso em um planejamento de operação.

Apenas no caso fortuito de todas as outras técnicas falharem, e os suspeitos consigam mirar e atingir a aeronave é que a proteção balística pode oferecer algum benefício. O grande problema desse benefício é o seu peso.

Os níveis de proteção balísticos a ser instalados em uma aeronave devem ser criteriosamente analisados pois nem  todos provem a proteção solicitada. Algumas proteções balísticas requerem a utilização de placas de cerâmica para uma eficiente proteção e mesmo assim um impacto direto ainda pode causar um trauma considerável devido a alta energia dos projéteis.

Assentos ou proteção de piso oferecem uma proteção balística de ameaças vindo de um ângulo limitado.  Já proteção balística para componentes críticos da aeronave, como motor, tanques de combustível, bombas e atuadores hidráulicas, componentes de transmissão, rotor de cauda, entre outros, são muito difíceis de serem instalados e serem efetivos, além de que outros componentes vitais de um helicóptero são impossíveis de serem protegidos, como as pás do rotor de cauda e do rotor principal.

Aeronaves de categoria leve são particularmente mais vulneráveis à projéteis. Mesmo que a proteção balística ofereça poucas vantagens, deve ser analisada sua utilização quando em operação em locais notadamente conhecidos como de alto risco. Em casos assim, melhor uma pequena vantagem de proteção do que nenhuma.

REGRA DOS 3  “S”

Para finalizar, uma consideração tática que deve ser sempre considerada por uma tripulação em uma missão policial com risco significativo ou desconhecido é a chamada “Regra dos 3 S”.

Mesmo sendo simples e fácil de ser lembrada, essa regra é uma ótima forma de minimizar o risco de sua aeronave seja atingida em uma missão. O que vem a ser a regra dos 3 S ?

Quanto em um ambiente de risco significativo ou desconhecido, estando abaixo de 3.000 AGL e a 3 milhas do suposto local da ameaça considere alterar seu rumo, altitude ou velocidade a cada 3 segundos.

Voando sempre em um perfil de voo sem padrão, a tripulação consegue fazer com que mirar em sua aeronave seja mais difícil, bem como predizer a sua trajetória de voo, tornando-se assim um alvo mais difícil de ser atingido.


Fonte: Air Beat Magazine, edição de Março/2012.

Artigo de Daniel L. Johnson, policial da LAPD aposentado. (tradução e adaptação Piloto Policial a partir do original em inglês)


5 COMENTÁRIOS

  1. Esta matéria realmente foi voltada para uma operação de combate de Segurança Pública. Muito boa a matéria, dados e dicas importantes para os operadores.

  2. Excelente matéria!!! E para aqueles que desprezam a importância da segurança de voo lembrem-se que vários acidentes já ocorreram e irão ocorrer. E o pior: pelos mesmos motivos, só mudam os atores!!!!! Tenhamos sempre o nosso estado de alerta elevado para todas as falhas latentes que podemos encontrar no nosso dia-dia.

  3. A atividade aérea é de risco por natureza mas, no entanto, não deve ser perigosa, sendo que essa distingue-se da primeira a medida que assumimos condutas em voo negligentes, imprudentes ou desnecessárias, que colocam o voo em situação periclitante além daquelas inerentes ao próprio ato de voar.
    Ótimo artigo, para avaliarmos melhor nossa conduta em voo no desempenho de nosso mister.
    Parabéns

  4. Pequena observação: cobertura é qualquer obstáculo que impeça o contato visual entre o atirador e seu alvo, enquanto o abrigo é o anteparo que oferece um mínimo de proteção balística a quem está sob fogo. Artigo esclarecedor, mas a regra dos 3S é difícil de ser implementada com efetividade no voo policial, sempre mais baixo e lento do que o ideal de segurança.

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