São Paulo, capital dos helicópteros: para transporte ou salvar vidas

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O dia 4 de abril de 2013 ficará marcado para sempre na memória do empresário Thiago Prando. Quando tentava manusear uma pistola finca-pino, ela explodiu na sua mão. “Meu tio e minha prima estavam na sala ao lado. Ao verem o meu estado, acionaram a Polícia Militar (PM),” recorda. O resgate veio pelo ar. Um helicóptero do Grupamento Aéreo (GRPAe) João Negrão, o Águia, pousou em um terreno baldio ao lado da empresa de Prando e, em menos de 15 minutos, ele chegou à sala de cirurgia do Hospital das Clí nicas (HC) de São Paulo. O primeiro-te nente PM Marcelo Henrique de Lima era copiloto dessa operação. “Salvar vidas é uma das missões diárias do Águia.” Cenas como essa são cada vez mais comuns no cotidiano do céu paulistano.

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O helicóptero deixou de ser de uso exclusivo das Polícias Militar e Civil do Estado de São Paulo e passou a fazer parte da vida dos executivos que, com a agenda apertada, o utilizam como meio mais rápido de locomoção. Programas televisivos também aderiram à aeronave para mostrar ao telespectador ao vivo e in loco cenas inusitadas ou comuns que ocorrem no dia a dia. Alguns pilotos, como o comandante Hamilton, ganharam fama ao apresentar, na telinha, diversas ações policiais. “O apelido de ‘lente nervosa’ dado aos pilotos pelo apresentador da TV Record, Marcelo Rezende, é uma forma carinhosa de mostrar o nosso cotidiano no ar à procura de imagens inéditas”, diz o comandante. (Nota do site: Na verdade os helicópteros deixaram de ser de uso exclusivo de executivos e empresas e passaram a ser utilizados pelas polícias.)

Capital – Com o passar dos anos, a cidade de São Paulo transformou-se na capital do helicóptero. Dados da Associação Brasileira dos Pilotos de Helicóptero (ABRAPHE) revelam que aqui se concentra a maior frota por cidades do mundo. São 411 aeronaves registradas com a maior quantidade de operações: em torno de 2 mil pousos e decolagens por dia. “Ganhamos, inclusive, de Nova York (Estados Unidos) e Tóquio (Japão), que ocupam a segunda e a terceira posições no ranking”, afirma o comandante Jorge Faria, presidente da ABRAPHE.

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Estudo desenvolvido pela associação em 2012 revela que o Brasil tem a quarta maior frota de helicópteros civis do planeta (1.990), perdendo apenas para os Estados Unidos (12 mil); Canadá (2.776); e Austrália (2.025), ficando à frente da França (1.300) e do Reino Unido (1.260). Faria explica que o uso de helicóptero tem maior crescimento no ramo empresarial.

O custo, porém, não é baixo: varia de R$ 1,5 mil/hora a R$ 15 mil/hora. O modelo Esquilo Jet Ranger é o mais utilizado por empresários. Cada viagem custa, em média, R$ 3 mil. Segundo dados da ABRAPHE (coletados entre janeiro e junho/2014), o setor cresce, em média, 10% ao ano no País.

Atualmente, são 3,7 mil pilotos em operação e uma frota de 2.131 aeronaves (734 só no Estado) e média anual crescente superior a 300 licenças emitidas para Piloto Comercial de Helicóptero (PCH) nos últimos três anos. “A maioria dos hotéis de São Paulo não oferece pacote fechado para voo, mas é possível combinar ao fazer a reserva”, informa Alexandre Davi, diretor administrativo da Helimarte, empresa de táxis-aéreos com sede em São Paulo. Davi explica que, em 2014, essas empresas sentiram forte retração na procura por voos.

“Por causa da crise econômica, houve recuo de 35%. Alguns pacotes de sobrevoo pela cidade de São Paulo (Night Air e Day Air) são procurados por casais ou famílias. Os preços dos passeios variam de R$ 990 a R$ 4,5 mil. Há três anos pilotando aeronaves, a comandante Aline Ricci Maia é um dos pilotos da Helimarte. “Realizei um sonho. Algumas pessoas ainda têm preconceito com relação às mulheres no comando dos aviões, mas quando conhecem de perto nosso trabalho tornam-se nossas fãs.”

Voo pela vida – A capital tem um heliporto, o Helicidade, localizado na zona oeste, e 375 helipontos. Desses, um se destaca. É o heliponto do Hospital das Clínicas. Situado no 11º andar do edifício do Instituto Central (IC), recebe todos os casos graves de saúde. “O HC é referência em traumas e, portanto, assim que o Corpo de Bombeiros liga para o nosso plantão controlador, imediatamente toda a equipe médica e de enfermeiros começa a trabalhar para salvar mais uma vida”, ressalta Vânia Silva, diretora da Divisão de Administração do IC. “Temos um planilha de referência com o nome dos hospitais para onde podemos encaminhar uma pessoa acidentada.

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O médico que está na viatura dos bombeiros ou do Samu passa todas as referências sobre o acidentado para o plantonista no Centro de Operações dos Bombeiros (Cobom). Com os dados em mãos, entramos em contato com a rede hospitalar e, se necessário, com o Águia”, explica o capitão PM Helmer Kaffer, chefe de operações do Cobom.

O Heliponto do HC tem duas pistas. Uma para embarque e outra para desembarque. “Recebemos 33 casos por mês”, diz o médico Francisco Seguro, que trabalha no Plantão Controlador há nove anos. Heliane Araújo, coordenadora de segurança do heliponto do IC, explica que as equipes são altamente treinadas: “Todos participam de ações de simulação pelo menos uma vez por mês – do segurança (que abre as portas para a equipe que traz o paciente) aos ascensoristas até a equipe médica de plantão.

Quando o helicóptero pousa no IC, o paciente é levado em até três minutos para a sala de cirurgia”, diz. Thiago Prando ainda lembra dos dias que ficou no HC. “Entre o chamado para a PM até a chegada ao hospital foram menos de 15 minutos; quando percebi já estava na sala de cirurgia. Permaneci 29 dias internado. Fui submetido a várias cirurgias para não perder, também, a perna atingida pela explosão.”

Polícia Civil – O trabalho do Serviço Aerotático (SAT) da Polícia Civil e o uso do helicóptero em ações policiais. O delegado-piloto Roberto Bayerlein, com 29 anos e dez meses de experiência em pilotagem, ele e sua equipe receberam, em 23 de agosto de 2013, a mensagem sobre o roubo de um furgão branco com uma carga de cigarros.

“Fomos para o Rodoanel Sul, na região da Via Anhanguera. Com o helicóptero, conseguimos, como em uma verdadeira cena de cinema, capturar os bandidos que desceram do furgão atirando. Uma pessoa que passava pelo local filmou e postou na internet. Deu um enorme ibope”, diz Bayerlein.

Há 30 anos, a Polícia Civil paulista utiliza o transporte aéreo para apoiar suas ações. Subordinado à Divisão de Operações Espe ciais do Departamento Estadual de Inves tigações Criminais, o SAT é o setor responsável pelo emprego e utilização dos quatro helicópteros conhecidos como Pelicanos. Além de suprir as demandas comuns às atividades de polícia, existe no SAT a Escola de Aviação direcionada à formação e capacitação de futuros pilotos de aviação policial.

Os primeiros helicópteros utilizados pela polícia de São Paulo foram emprestados pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp), em 1983. Em 15 de agosto de 1984, o primeiro helicóptero, batizado de Pelicano, era destinado à Polícia Civil, marcando, assim, o início das ações com equipamento próprio e do treinamento da primeira turma de pilotos e tripulantes na Força Aérea Brasileira, como é o caso do delegado Bayerlein. “Como unidade responsável pelas operações foi criado o SAT, por meio do Decreto estadual nº 23.276/1985. Com o aumento do efetivo e a chegada de mais três helicópteros, o SAT realizou mais de 9 mil missões, superando 10 mil horas de voo”, informa Fábio Coan Sampaio, delegado titular do SAT.

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Quadro – O SAT dispõe de quatro helicópteros modelo Esquilo que podem transportar, além dos dois pilotos, quatro passageiros. Tem autonomia de 3,5 horas de voo, alcance aproximado de 500 quilômetros sem reabastecimento, podendo realizar operações em qualquer ponto do Estado de São Paulo ou fora. “É o caso da operação de apoio durante a temporada de enchentes em Santa Catarina, em 2008, em que voaram mais de 50 horas basicamente em missões humanitárias”, explica Maurício Freire, assistente de divisão e operações especiais e piloto do SAT.

Entre delegados-pilotos, investigadores-tripulantes e escrivão de polícia, o SAT tem 28 policiais. A equipe operacional em cada aeronave é composta por dois pilotos e dois tripulantes. O delegado Coan Sampaio explica que são realizados treinamentos e cursos periódicos interna e externamente, em operações especiais, técnicas de resgate e emergências. Todos os pilotos são delegados de polícia e realizam o curso de pilotagem na Escola de Aviação da PC na Academia de Polícia (Acadepol). Para comandar um helicóptero, o piloto deve ter 500 horas de voo. Há, ainda, a tripulação técnica (investigadores), que pode trabalhar em duas ou três operações.

O primeiro voo noturno em ação policial foi do SAT. “Fomos acionados para levar um garoto que estava com o esôfago perfurado, em Mogi das Cruzes, e precisava ser removido para o HC. Foi uma vitória, conseguimos salvá-lo”, recorda Coan. O segundo voo noturno com o SAT ocorreu quando um homem foi picado por uma cobra. “O antídoto foi aplicado na própria aeronave. De lá, ele foi encaminhado ao Hospital das Clínicas.” Nem sempre as histórias têm um final feliz. No dia 14 de julho de 2001, os policiais José Maurício de Aguiar Cerciari, Otávio Marcos Correa Trovillo e José Ozório Arruda Campos Rodrigues embarcaram para a última missão. Procuravam ladrões quando o helicóptero caiu, matando todos a bordo.

Minissérie – De um canal a cabo para um canal da TV aberta. O dia a dia do Grupamento de Radiopatrulha Aérea (GRPAe), da PM do Estado, o Águia, foi transformado em série pela Discovery e, agora, está sendo transmitido pelo SBT, todas as segundas-feiras, às 23 horas. O Grupamento existe há 30 anos. Todos os dias, das 6 da manhã à 1 hora da madrugada, as atenções estão voltadas às ocorrências.

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São operações de salvamento, episódios de enchentes, contenção de áreas florestais incendiadas, transportes médicos e de órgãos humanos. Com o título Águias da Cidade, o projeto envolveu grandes desafios, in cluindo o acesso à PM e a logística montada com microcâmeras digitais, insta ladas nos helicópteros e acopladas ao corpo dos integrantes das equipes do Grupamento Aéreo.

Por dentro da rotina – “O Grupamento Aéreo da PM trabalha com o Cobom e Copom para atender os casos mais graves e urgentes dos cerca de 30 mil chamados recebidos diariamente na cidade. Nesta megalópole, onde os congestionamentos de dezenas de quilômetros são constantes, muitas vezes a ajuda só pode vir do alto”, salienta o primeiro-tenente PM Eduardo Yajima.

numerosOs pilotos são altamente treinados e, para fazer parte deste seleto grupo, os testes são rigorosos. Hoje, o grupo tem 405 profissionais, dos quais 106 são pilotos, entre eles, três mulheres. Além da base localizada no Campo de Marte, zona norte, o Águia tem bases na Praia Grande, São José dos Campos, Piracicaba, Campinas, Sorocaba, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, Bauru, Araçatuba e São José do Rio Preto. As ocorrências (via Copom) mais graves são anotadas pela sala de monitoramento do grupamento e passadas para as equipes que rapidamente decolam para dar apoio. Com o Cobom, o procedimento é diferente.

Os helicópteros só decolam se forem requisitados. O monitoramento é feito por tripulantes, enfermeiros e coordenador de operações aéreas que, de duas em duas horas, fazem rodízio por conta da radiação emitida pelos vários equipamentos. Juntos, eles decidem qual ocorrência será atendida ou não. Se for necessário decolar, soa um alarme. Quando não estão voando, os policiais têm funções administrativas.

Assim que o alarme soa, eles se preparam para entrar em ação. No helicóptero, esperam pela confirmação (uma lâmpada verde se acende) autorizando a saída. Em caso de cancelamento, uma luz vermelha dá o aviso. Fabiana Maria Ajjar é médica e trabalha há 13 anos no Grupamento Aéreo. “Eu era do GRAU desde 1999. Em 2001, durante meu estágio no HC, soube que o Grupamento Aéreo precisava de um médico. Fiz o exame e fui aprovada.” Hoje, ela diz, emocionada, que não existe trabalho mais gratificante: “um minuto mais rápido em nosso atendimento pode fazer toda a diferença”. Assim foi o caso de uma mãe e de um bebê (de um mês) que foram arremessados para fora do carro no km 33 da Rodovia dos Bandeirantes, no dia 11 de novembro. O veículo capotou e arremessou a criança, que estava na cadeirinha, no banco de trás. “Graças às nossas manobras e ao rápido atendimento, a garotinha (que ficou internada mais de 50 dias no HC) já está fora de perigo” finaliza.

Por Maria Lúcia Zanelli Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial.

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